Autarcas e utentes não aceitam cortes cegos
A Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul (CUTMS) vai manifestar-se hoje, dia 10 de Novembro, a partir das 14 horas, junto à Assembleia da República contra a Reformulação da Rede de Transportes Públicos na Área Metropolitana de Lisboa, proposta pelo grupo de trabalho criado pelo Governo em Outubro. Isto acontece no mesmo dia em que os autarcas da comissão de Mobilidade da Área Metropolitana de Lisboa contam entregar à Junta Metropolitana uma proposta conjunta sobre a articulação da rede de transportes que, depois de analisada por este órgão, deve ser apresentado pelo seu presidente, Carlos Humberto, até dia 17 deste mês ao grupo de trabalho governamental liderado por Pedro Gonçalves e à Secretaria de Estado dos Transportes. O conteúdo da proposta que irá emanar dos municípios será de certo bem diferente daquela que foi apresentada pelo grupo de trabalho criado pelo Governo aos municípios, na passada semana. “Há outras alternativas em que não é preciso cortar serviços”, garante Joaquim Santos, vice-presidente da Câmara do Seixal e coordenador do grupo de vereadores da Mobilidade. “O que é preciso é adequá-los”, afirma. A proposta do grupo de trabalho do Governo corta 23 carreiras e altera percursos e horários de outras 24. Para além dos cortes na Transtejo. “Isto será o princípio do fim dos do serviço público de transportes”, diz Luísa Ramos, porta-voz da CUTMS. Aliás, a sua opinião é que “a pretensão do Governo é, para além de acabar com o passe social intermodal, privatizar os transportes”. No caso de Almada este corte acaba de vez com a carreira da Carris 753 entre a Praça José Fontana e o Centro Sul que, a horas de ponta, é das mais procuradas pelos utentes e abre um verdadeiro rombo no serviço de travessias da Transtejo, sendo o mais violento na travessia entre Trafaria, Porto Brandão e Belém, que acaba de vez. Esta hipótese que a presidente da Junta de Freguesia de Caparica, Teresa Coelho (CDU), considera “inaceitável” e a sua congénere socialista da Trafaria, Francisca Parreira, diz ser um “ataque à qualidade de vida das populações”, tem sido contestada também por dois grupos de cidadãos das duas freguesias que já realizaram vigílias para alertar o Governo que o corte nesta carreira fluvial “é matar estas localidades”. Entretanto o Jornal da Região sabe que estão a ser preparadas mais acções de luta. Teresa Coelho não consegue perceber os fundamentos do grupo de trabalho governamental para acabar com esta ligação fluvial. “Dizem que transporta apenas 400 pessoas, o que é completamente falso”, afirma a autarca. Para além da população que usa esta travessia, lembra que “só a Faculdade de Ciências e Tecnologia e o Instituto Egas Moniz têm 8 mil alunos, para além de professores e funcionários”, e “muitos deles vêm de Lisboa”. E do ponto de vista da travessia fluvial o problema de mobilidade por transporte público piora ainda mais quando estão previstos cortes no número de carreiras entre Cacilhas e o Cais do Sodré e Seixal e Cais do Sodré. “A concretização desta medida seria gravíssima”, afirma a presidente da Câmara de Almada, Maria Emília de Sousa que acrescenta que “não podemos aceitar tudo em nome da ‘troika’. O grupo para Reformulação da Rede de Transportes Públicos na Área Metropolitana de Lisboa prevê dois cenários com o primeiro a traçar, no caso das ligações fluviais entre Lisboa e Cacilhas e entre Lisboa e o Barreiro, para a antecipação da hora de encerramento do serviço diário e para a redução da frequência das carreiras ao fim-de-semana. A acrescer sugere a suspensão da ligação fluvial entre Seixal e Lisboa e a manutenção da ligação ao Montijo apenas nos dias úteis e em períodos de ponta. Para Luísa Ramos estas medidas são “um regresso ao passado onde não existia um sistema de transportes públicos”, a isto acrescenta que “o serviço público é a base da democracia” e que o actual Governo “está a colocar tudo em causa em nome das privatizações”. Entretanto, o ministro da Economia Álvaro Santos Pereira já veio dizer sobre a revisão da rede de transportes públicos que nada está decidido e que até agora “apenas existem propostas e não decisões do Governo”, ao mesmo tempo garante que quando o relatório do grupo de trabalho estiver concluído o Governo “vai ouvir as autarquias”.
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