Instituição reforça acompanhamento a menores com necessidades educativas especiais
Terapeutas especializados que vão aonde a criança estiver, seja à escola, ao hospital ou ao domicílio. Este carácter itinerante, que procura encaixar as consultas no ritmo familiar quotidiano evitando a sobrecarga de incómodos, tempo e dinheiro com as deslocações, marca o serviço prestado pela EMDIIP – Equipa Móvel de Desenvolvimento Infantil e Intervenção Precoce. Surgida em 2009, a partir da iniciativa de um punhado de alunos finalistas do Curso de Reabilitação Psicomotora da Faculdade de Motricidade Humana (Cruz Quebrada-Dafundo), esta IPSS não tem parado de crescer, provando que o trabalho desempenhado corresponde a necessidades reais e prementes no terreno. O projecto, que para ser economicamente sustentável cobra um preço mínimo pelo acompanhamento semanal das crianças com necessidades educativas especiais (50 euros por mês, valor que aumenta consoante o rendimento das famílias), passou de 67 casos em 2010 para 120 actualmente, abrangendo, sobretudo, os concelhos de Oeiras, Sintra, Cascais e Lisboa. Paralelamente, o número de técnicos já chega aos 14. Em Dezembro último passou a ter uma sede sua, no bairro municipal de São Marçal (Outurela/Carnaxide), em instalações cedidas pela Câmara. Apesar do pouco tempo de vida é já um trabalho de assinalável dimensão social. Para isso bastante contribuiu a Fundação Luís Figo, através de um patrocínio que permitiu à EMDIIP retirar 50 crianças à lista de espera de famílias que não acediam aos seus serviços por carência económica. Um apoio que veio motivar os jovens dirigentes. “Foi bastante importante porque a nossa filosofia baseia-se no objectivo de sermos bons no que fazemos e de colocarmos esse trabalho ao alcance de todos, independentemente, o mais possível, da sua condição económica”, salienta ao JR André Rica, director da EMDIIP. Nesse contexto, e porque a “grande maioria” dos acompanhamentos feitos pela instituição refere-se a famílias que pagam a mensalidade mínima ou pouco mais, a sustentabilidade do projecto é uma preocupação sempre presente. Hoje mais do que nunca porque a crise prolongada começa a causar danos concretos. “A nossa regra de ouro é que a qualidade não é negociável, apenas o preço. O ano passado já foi preciso fazermos uma certa ‘ginástica’ para que as pessoas não desistissem, mas este ano apareceram alguns casos em que não se trata já de tentar ajustamentos, mas sim da absoluta impossibilidade de pagarem”, lamenta aquele responsável. Sem qualquer apoio da Segurança Social, a solução passa por poupar o mais possível os recursos disponíveis. “Os móveis da sede foram dados pelo Banco de Utilidade Social de Trajouce”, diz o nosso interlocutor. E por acreditar que a qualidade do trabalho desenvolvido vai continuar a ser a melhor publicidade da instituição, junto de fundações, jardins-de-infância, escolas e unidades de saúde. “Pode perguntar-se porque é que temos este papel social se não temos apoio do Estado… A resposta é que quem tem posses já está servido e nós queremos é ajudar onde possamos estar a fazer falta”. De resto, é assim desde o início. “A EMDIIP surgiu a partir do Estágio de Intervenção Precoce que a FMH realizava e cuja eliminação foi imposta pelo Processo de Bolonha”, recorda André Rica. “Isso colocou um problema – então as crianças que estavam a ser acompanhadas em Algés, na Cruz Quebrada, em Queijas, iam ficar sem esse apoio dos estagiários da Faculdade?! – e forçou o aparecimento de uma alternativa para responder a uma nova necessidade”. Assim, a instituição cresceu ocupando o espaço deixado vago em instituições que, “convidadas” a apertarem o cinto em nome da austeridade, foram dispensando profissionais especializados em ajudar crianças com necessidades educativas especiais. No entanto, todos os dias surgem evidências de que esse trabalho a montante era e é necessário… “Há escolas que nos dizem não precisar do nosso trabalho, mas depois vêm bater-nos à porta famílias de alunos dessas mesmas escolas…”, exemplifica o director da EMDIIP, sublinhando, em jeito de alerta: “Uma aposta em profissionais que possam trabalhar as crianças com estas problemáticas o mais cedo possível evita custos muito maiores posteriormente, quando o Estado for chamado a sustentar um cidadão apenas por não lhe terem sido dadas, atempadamente, condições para a sua autonomia”. Jorge A. Ferreira
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