Correcção de alterações permite concluir obra polémica do arquitecto Troufa Real em Miraflores
Igreja-“foguetão”, “cilindro” ou “paliteiro”… São vários os baptismos informais já feitos pela população a respeito da obra do arquitecto Troufa Real que está parada há cerca de dois anos em Miraflores. Agora que a estátua de Santo Ambrósio foi inaugurada num parque situado ali perto talvez surja o milagre que os fiéis há muito esperam: a conclusão de um projecto que teve o seu início em 2001 e que já absorveu dois dos mais de três milhões de euros previstos! O calvário deverá estar perto do fim. Segundo revelou ao JR o padre Daniel Henriques, que assumiu esta paróquia em 2005 e já apanhou a empreitada em andamento, “têm ocorrido reuniões regulares entre responsáveis da empresa encarregada do projecto de especialidades, os engenheiros da equipa técnica da Igreja e os especialistas da Câmara Municipal com o objectivo de reunirmos os elementos em falta para a obra poder recomeçar, o que deverá acontecer em breve”. Depois, a contagem decrescente para o templo ficar pronto será curta. “A execução será rápida, não mais de seis a oito meses, porque a estrutura está pronta e o resto, no fundo, são apenas acabamentos”, sublinha o responsável pelos “rebanhos paroquiais” de Algés, Miraflores e Cruz Quebrada-Dafundo. A Paróquia de Cristo-Rei de Algés é a adjudicatária da obra, que inclui uma torre destinada a igreja, um auditório e áreas sociais e de apoio. Uma destas componentes, o Centro Pastoral, já está pronto há três anos e tem sido utilizado para a catequese, os escuteiros, reuniões e actividades diversas. Com a construção da Igreja propriamente dita é que tem sido o diabo... Muitos atrasos e muitas mais polémicas, inclusive com ‘galhardetes’ trocados entre o dono da obra e o arquitecto. Há pouco tempo, aquando da inauguração de um outro templo (a ‘Igreja- Caravela’ do Alto do Restelo) que tem merecido, igualmente, debates inflamados a propósito das suas opções, Troufa Real acusou, publicamente, os executores da obra em Miraflores de estarem a desfigurar o projecto inicial e até de colocarem em perigo a segurança estrutural da igreja. O padre Daniel discorda.“ Apenas se alterou a solução estrutural que era em paredes maciças de betão para uma estrutura reticulada com vigas e pilares (estrutura que está executada)”, contrapõe. “Caso existam, as alegadas fragilidades não devem certamente ser atribuídas ao dono de obra, uma vez que construímos de acordo com o projecto entregue pela equipa projectista na área das especialidades”. Sendo que “durante a execução da obra esteve sempre presente nas reuniões semanais uma arquitecta em representação do gabinete do Professor Troufa Real”. O prior reconhece, no entanto, que a razão principal da alteração da estrutura, tornando- a mais leve e barata, “prendeu- se com o elevadíssimo custo da solução inicial, segundo os orçamentos pedidos para o efeito”. Face à reclamação do arquitecto Troufa Real, a Câmara Municipal “sugeriu à Paróquia que fossem suspensas as obras até esclarecimento do assunto e eventual correcção, como forma de evitar um processo mais moroso e de maiores custos que poderia no limite conduzir ao embargo da obra”, conta o clérigo. E a correcção já está no horizonte, segundo revelou ao JR o presidente da autarquia. “Vamos fechar com alvenaria de tijolo os vãos da estrutura de forma a criar uma superfície contínua que permita a aplicação do revestimento final previsto pelo arquitecto Troufa Real, isto é, os azulejos de Querubim Lapa”, informou Isaltino Morais ao JR Quanto ao custo da obra, é certo que já se gastaram dois milhões de euros, mas ainda não é líquido que não se venha a ultrapassar o orçamento estimado de 3,1 milhões (a Câmara comparticipa com um milhão de euros). Já sobre o aspecto da obra, padre Daniel não vê sombra de pecado. “Não é muito comum, de facto, mas eu penso que o arquitecto teve aqui algumas intuições positivas: uma delas é que a igreja não fosse algo atarracado aqui no meio de tantos prédios e que se erguesse, pelo menos, ao nível dos mesmos; outra é a configuração redonda, que também serve de elemento diferenciador”. E conclui: “Não há uma regra canónica do que deve ser uma igreja para além das regras da concepção do espaço em termos litúrgicos e celebrativos. O resto depende da criatividade do arquitecto... sem que este esqueça que existe uma comunidade paroquial que acaba por ser o dono da obra”. Jorge A. Ferreira
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