Comerciantes criticam as alterações de trânsito
Algumas das lojas de referência do centro de Almada já fecharam e outras estão a passar por grandes dificuldades. Para o presidente da Delegação de Almada da Associação de Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal (ACSDS), Gonçalo Paulino, o aumento das dificuldades económicas das famílias não é a única razão para explicar a quebra no negócio das lojas e reafirma que "a grande culpa está nas alterações de trânsito". “Já alertámos a Câmara, por diversas vezes, que este modelo não funciona, pelo que é urgente alterá-lo”. Entretanto, a autarquia está a avaliar o Plano de Acessibilidades XXI e o representante dos comerciantes afirma que a Delegação de Almada não foi chamada para integrar a equipa que está a efectuar este trabalho. “Já contactámos, por carta, os departamentos e a Divisão de Trânsito da Câmara que estão a fazer esta avaliação, mas não recebemos qualquer resposta”. Aliás, acresce que os comerciantes “nunca foram ouvidos” para a elaboração deste plano. “Estranhamos que essa análise seja unicamente sobre o tráfego e estacionamento e não contemple a componente socioeconómica”. Gonçalo Paulino diz que a Delegação “está disponível” para fornecer dados sobre quantas lojas fecharam desde as alterações de trânsito no centro de Almada e quantas pessoas perderam o emprego. Pelos seus cálculos, só no centro da cidade “já encerraram cerca de 200 lojas” e foram extinguidos “700 postos de trabalho no comércio”. Tudo isto depois das obras para implementar o Metro Sul do Tejo, e “nunca foi criada uma comissão para avaliar esse impacto”. Segundo o representante dos comerciantes, a autarquia “tem a obrigação” de promover um estudo sobre a opinião do comércio relativamente às alterações de trânsito, mas à falta do mesmo a Delegação avançou ela própria com uma auscultação, esta semana. “É um questionário a todos os comerciantes de Almada para avaliarmos o efeito que as obras e as alterações de trânsito tiveram na sua vida, e dos seus funcionários, em termos económicos”. O resultado desta análise deverá ser apresentado aos vereadores das diferentes forças políticas, em Março. Relativamente ao protesto dos comerciantes por não serem ouvidos na avaliação do Plano de Mobilidade, a autarquia afirma ao Jornal da Região que este “está a ser revisto no que respeita aos seus vários regulamentos”. Após este trabalho técnico, “haverá lugar à discussão pública onde todas as entidades serão consultadas”. Mas, para Gonçalo Paulino, existem outros motivos de descontentamento, como a actuação da Ecalma e a “falta de promoção dos parques de estacionamento”. Segundo este responsável, a Ecalma “tem de actuar mais pela pedagogia e menos pela caça à multa”. É que “as pessoas têm medo de vir a Almada” e pior ainda quando “os parques de estacionamento estão mal sinalizados”. Sobre esta matéria, refere que a Delegação propôs à Ecalma, “há cerca de ano e meio”, que o acordo para as senhas de estacionamento a adquirir pelo comércio local, para oferecer aos clientes, não seja apenas para o parque de estacionamento da Avenida D. Afonso Henriques, mas seja alargada aos outros parques. Além da própria promoção dos referidos parques, mas “mais uma vez não tivemos resposta”. Em resposta a esta questão, a Câmara de Almada afirma que “a tarifa especial de estacionamento aplicada no Parque da Avenida D. Afonso Henriques está também a ser aplicada no Parque da Rua Capitão Leitão”. Quanto ao alargamento a outros parques de estacionamento, “poderá ser equacionado quando houver uma revisão do contrato de gestão estabelecido entre o município e a Ecalma". Para Gonçalo Paulino é essencial que a Câmara se preocupe com os comerciantes até porque “quanto mais comércio existir e mais actividade económica, mais a Câmara ganha”. Por isso, “é vital que a autarquia ponha em prática políticas para atrair ao centro de Almada as lojas âncora”, mas para isso também tem de manter o sector dos serviços a funcionar. “O centro de Almada já perdeu a EDP, já ficou sem o Tribunal, agora se a Câmara concretiza a mudança dos Paços do Concelho para o Centro Sul será a machadada final no comércio”. Por isso, diz, a autarquia “tem de ter uma estratégia para o comércio local” de modo a que “as pessoas voltem a ter o hábito e gosto de vir a Almada”. Em contraponto, a Câmara de Almada garante que está preocupada com o comércio local,mas “o que se está a passar no concelho com as lojas de referência, e não só, está- se a passar na Área Metropolitana de Lisboa e em todo o país. São perdas irreparáveis, muitas delas de empresas familiares construídas ao longo de gerações. Por isso, encara-se esta questão com apreensão”. Mas, para a autarquia de Almada, o grande problema está na “ausência de políticas nacionais que passem pela dinamização e estímulo da economia. O aumento do desemprego, o corte nos salários, o aumento do IVA(nomeadamente o sector da restauração) entre outras medidas, levam a uma redução do poder de compra das pessoas, com implicações directas na redução das actividades económicas e no sector do comércio em particular”. A isto, adverte a autarquia, que “o Governo assume que está a estudar medidas de incentivo a este sector, mas passado mais de meio ano, ainda não se percebeu quais as medidas de apoio ao comércio local que vai tomar. Esta é uma situação que só poderá ser atenuada com políticas nacionais. Assim, é urgente que haja uma alteração de políticas que travem o desemprego e que dinamizem a economia”. Humberto Lameiras
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