Associação Juvenil Ponte vai criar pólo social nas Mercês, com balneário, lavandaria e loja solidária
A partir de Março de 2012, o concelho de Sintra vai dispor de um novo pólo social, o Manto, em instalações situadas nas Mercês. Uma iniciativa da Associação Juvenil Ponte que pretende responder aos problemas dos mais carenciados,mas rejeitando o assistencialismo puro, já que os seus utentes vão ser convidados a prestar serviços a favor da comunidade. A nova estrutura social, que irá ocupar instalações cedidas pela União Recreativa das Mercês, na Rua João de Barros, vai estar dotado de balneário, lavandaria e loja solidária, para dar resposta às necessidades essenciais de qualquer ser humano: alimentação, higiene e vestuário. O projecto pretende beneficiar, mensalmente, cerca de 440 pessoas, em especial na área da higiene e alimentação, e muitas outras centenas em termos de atendimento social. "O projecto visa contribuir para uma melhor qualidade de vida daqueles que se encontram numa situação de maior fragilidade", explica Susana Ramalho, presidente da direcção da Associação Juvenil Ponte. "Mas, também a integração social dos indivíduos, através da valorização das suas competências pessoais", salienta esta responsável. Baseada na economia da comunhão, o projecto prevê a contribuição de cada beneficiado, através da sigla 25/25/50. "Se um banho custar um euro, então o utente vai pagar 25 por cento em dinheiro. Outros 25% serão oferecidos pela estrutura e os restantes 50 por cento serão pagos pela pessoa em trabalho a favor da comunidade", sublinha Susana Ramalho. Conforme as suas competências, os utentes poderão efectuar pequenos trabalhos de costura, por exemplo, na roupa vendida na Loja Solidária, ou ensinar a tocar viola a quem queira aprender. Em Março, quando o projecto abrir portas, estarão definidos os serviços a disponibilizar pela estrutura à comunidade, que poderão ir da "lavagem de carros a engraxar sapatos", que serão prestados pelos utentes, como forma de pagamento do que beneficiam, mas também como contributo para a sustentabilidade financeira do projecto social. Que tipo de utente será beneficiado por esta estrutura? "Provavelmente, não serão as pessoas que estão habituadas a ir à igreja e a ser-lhes dada roupa, que estão habituadas a receber sem mais...", revela Susana Ramalho, em declarações ao JR, após a apresentação do novo pólo social, que decorreu, no passado dia 6 de Dezembro, no Palácio Valenças, em Sintra. "Mas, temos consciência de que há muitas famílias que tinham uma vida equilibrada e tranquila, e que por via do desemprego, enfrentam agora situações de ruptura", acentua a presidente da direcção da Associação Juvenil Ponte, convicta que, nestes casos, "a essas pessoas poderá fazer mais sentido continuarem a ser úteis à comunidade e, em contrapartida, receberem a ajuda da estrutura". Até ao final do ano ou no início de 2012, vão arrancar as obras de adaptação do imóvel, situado na proximidade da estação de comboios das Mercês, que contam, desde já, com um contributo financeiro da Fundação EDP, na ordem dos "20 a 30mil euros", mas ainda insuficiente para concretizar a remodelação das instalações. "Creio que mais 10 mil euros serão necessários para que a estrutura fique condigna", adianta Susana Ramalho. Inicialmente, o projecto abrangia mesmo um refeitório, para servir almoços nas próprias instalações, mas a grandeza do investimento obrigou a alterar essa valência alimentar. As refeições serão disponibilizadas "de uma forma ‘take away’", na ordem de uma centena por dia. O projecto está cotado na Bolsa de Valores Sociais (BVS), que se destina a apoiar e viabilizar projectos de luta contra a pobreza e a exclusão social, através do financiamento de qualquer interessado que poderá investir em acções que custam um euro, com um mínimo de aquisição a cifrar-se em cinco acções. Susana Ramalho quantifica em 100 mil euros os custos com o funcionamento anual da estrutura social, que vai implicar a criação de dois a três postos de trabalho, e que, além de estar aberto a todo o tipo de apoios, conta com a Câmara de Sintra como parceiro activo. Com quase 20 anos de existência, a Associação Juvenil Ponte dispõe de um ATL para crianças do 1.º Ciclo, que acolhe 50 petizes em instalações cedidas pelo município na Serra das Minas, além de proporcionar apoio psicológico a crianças e adolescentes em articulação com as comissões de protecção de menores e instâncias judiciais. A associação coordena, ainda, a agência do Banco do Tempo de Sintra e desenvolve outras actividades pontuais, "que servem sempre para construir um mundo melhor". As instalações que vão receber o novo pólo social já acolheram um ATL para adolescentes e serviu para germinar o projecto. "Quando tínhamos essa estrutura, iam lá perguntar ao João, o nosso monitor, se podiam tomar banho e isso chocou-nos um pouco... Há pessoas que até têm casa, mas não têm água ou gás para poder tomar um banho. E também houve o caso de dois homens, que pareciam de Leste, que iam ter uma entrevista de emprego e não tinham como tomar banho", recorda Susana Ramalho, dando conta que, apesar de não se constatar a existência de sem-abrigos nas ruas do concelho de Sintra, "há pessoas que passam necessidades e podem ser dignificadas na lógica do nosso projecto".
João Carlos Sebastião
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