quinta-feira, 28 de julho de 2011

FÉRIAS NA REGIÃO - Sintra

Eléctrico de Sintra... E o resto é paisagem
Aos mais antigos exercita a memória, aos mais novos excita as sensações, a todos agrada. O convite está feito: a frescura, o chiar metálico nos carris, a paisagem e a chegada à Praia das Maçãs para um almoço ou apenas um café com cheiro a maresia e a revivalismo, fazem do eléctrico de Sintra uma boa proposta para este Verão, com viagens regulares a partir da Vila Alda às sextas-feiras, sábados e domingos. Ah! E, ainda por cima, é barato. Numa tarde pintada de sol, o vermelho eléctrico n.º 6 parte apinhado de gente, deixando uns quantos na condição de peões mais algum tempo. A capacidade está esgotada: 32 lugares sentados, mais quatro em pé na retaguarda. Ir pendurado no estribo está fora de hipótese. “Às vezes, temos dificuldade em convencer alguns passageiros que essa actividade radical, sendo aliciante, não é aconselhável”, comenta Valdemar Alves, coordenador deste serviço de transportes, co-autor do livro lançado em 2004 para comemorar o centenário da linha e que, em 2009, tirou mesmo um curso de guarda- freio e pôs-se a conduzir o ‘pouca- terra’. Agora é, sobretudo, guia e contador de histórias sobre os veículos que marcaram diferentes gerações, vendo-se já bisnetos ao colo de alguns passageiros das primeiras décadas de actividade. Semeada em ambiente bucólico, não parecendo, a linha tem os seus riscos. Os primeiros quilómetros são propícios a embalar e aí “o guarda- freio não pode facilitar”. A velocidade recomendada é de 15/20 km, mas Valdemar lembra-se de um teste feito em meados dos anos 90, com um automóvel ao lado, que permitiu perceber que o motor dos pacatos carros movidos a electricidade pode chegar, numa recta em descida, a 108 km/hora… Não são, porém, para filmes de acção espectacular que estes veículos estão a ser recuperados, paulatinamente, pela Câmara de Sintra (dos sete carros motor e sete atrelados já retomaram a mobilidade quatro dos primeiros e dois dos segundos). É mais uma película à Manoel de Oliveira, mas com cenas pitorescas como a que acontece amiúde, às sextas-feiras e sábados de manhã, quando o ajudante do guarda-freio se torna, também, ajudante dos idosos que moram juntinho à paragem e que, nesses dias, religiosamente, vão às compras ao Mercado da Estefânia. “Pomos uns banquinhos para fazerem de degrau e num ápice damos o jeito e levamos os sacos até à porta de casa”, relata Valdemar Alves, com visível satisfação por este ‘mimo’ de serviço público. Ademais, trata-se de uma “linha muito sinuosa” e com troços onde há numerosas entradas e saídas para quintas e vivendas. Toda a atenção é pouca, até porque “muitos moradores saem de marcha-atrás, o que não ajuda nada”. Por via das dúvidas, vai-se mais devagar, o que, aliás, é bom para apreciar a paisagem. O eléctrico, aberto, apenas com cortinas de correr, permite ampla visão e dá tempo, inclusive, para corresponder aos acenos e às buzinadelas dos automobilistas que seguem na estrada. Isto antes de os carris se afastarem do asfalto, à entrada de Colares, e irem passar mais perto de quintas, “quase em cima de coelhos e galinhas”, oferecendo, também, vista privilegiada para algumas moradias, piscinas incluído – o que levou alguns dos inquilinos a erguerem barreiras… Ao surgir no horizonte o antigo apeadeiro de Colares – ao que parece, com projecto de recuperação na forja – Valdemar Alves lembra que este foi o primeiro ‘terminus’ da linha e era das paragens mais importantes. Entretanto, pelo lado esquerdo estende- se a Várzea de Colares, “terrenos fantásticos para agricultura” que, pelo que se tem visto, parecem destinados a voltar ao aproveitamento de outrora por força da crise… Mais uma curva e o eléctrico chega ao Banzão e à Adega Regional de Colares. No Pinhal da Nazaré constata- se porque se tornou esta uma das paragens mais importantes, cheia de passageiros graças ao hotel ali existente. Pouco depois, meta à vista. E com ela também a bandeira vermelha que é teimosa na Praia das Maçãs. A meio da tarde, os passageiros saem e vão animar o comércio local, afinal, um dos objectivos deste serviço de transportes. Por dois euros (adultos), apenas um (idosos com 65 ou mais anos) ou até gratuitamente (crianças até seis anos, desde que não ocupem lugar), aqui fica uma proposta refrescante para os quentes fins-de-semana que se avizinham.

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