Saldos antecipados não garantem mais vendas
A abertura oficial da época de saldos só está prevista para 15 de Julho. Todavia, no centro da Amadora “as promoções”, que variam entre os 10 e os 60 por cento, já decoraram as montras da maior parte das lojas ali instaladas. É assim desde meados de Junho. Sinais da crise ou, simplesmente, porque atrás de uns vão os outros, o que é certo é que no centro da Amadora já se podem comprar artigos, desde sapatos, bijutaria, passando por electrodomésticos, a preços mais reduzidos. Cada vez mais cedo os comerciantes da Amadora vêem-se forçados a aderir às promoções que antecipam a época de saldos. Em muitos casos, as reduções chegam aos 50 por cento. No centro da cidade, nas imediações da estação de comboios da CP, junto ao parque Delfim Guimarães, a grande maioria das montras está decorada com “promoções”, sob forma de cartazes ou autocolantes colocados nas vitrinas, que vão dos 10 aos 60 por cento. “As coisas estão muito fracas e esta é uma forma de atrair mais clientes”, refere Maria Lúcia Braga, funcionária de um pronto-a-vestir de cerimónia de senhora, no centro da cidade. “Nós nunca fazemos promoções ou saldos, mas este ano, devido à crise e porque os restantes estabelecimentos também fazem, resolvemos promover alguns artigos”. Apesar de reconhecer que na Amadora o comércio tradicional é forte e de trabalhar num sector onde não há concorrência das grandes superfícies, “as pessoas estão assustadas com a crise e não consomem”, considera. Esta funcionária, há 40 anos no sector, sublinha ainda que “nunca estivemos tão mal de vendas como nos últimos dois anos. Tínhamos clientes que não olhavam ao preço, mas agora já não é assim e mesmo com promoções há poucas pessoas a comprar”. Do mesmo se queixa Fátima Carvalho. Recorda os tempos em que nos saldos não havia mãos a medir. “Trabalhei numa loja na baixa de Lisboa e quando era a época dos saldos, que começavam ao mesmo tempo em todas as lojas, havia filas para entrar”, lembra. Queixa-se, por isso, que “cada vez há promoções mais cedo, os clientes estão cada vez mais habituados a elas. A grande maioria só vem comprar mesmo no fim dos saldos, porque procuram o mais barato”. Também ali, num pronto-a-vestir situado no centro, “a clientela acaba por ser sempre a mesma” e conclui que “cada vez mais, as pessoas da Amadora estão a perder o poder de compra”. Ora, numa das sapatarias da Avenida Santos Matos, Ruy Raimundo também aderiu às chamadas “promoções” que antecipam os saldos. Mas nem assim as vendas estão melhores. “Entendi baixar um pouco os preços para ver de conseguimos escoar alguns ‘stocks’ e fazer algum dinheiro, porque as contas continuam a ser as mesmas no final do mês”, refere. No entanto, afirma que “nem assim se consegue vender mais”. “As coisas estão muito mal e embora não seja pessimista, acredito que metade destas lojas vai desaparecer dentro de anos”, acrescenta. Contra a abertura de novos centros comerciais Para Associação Comercial e Empresarial dos Concelho de Oeiras e Amadora (ACECOA) este é mais um sinal da crise, provocada não apenas pela situação financeira das famílias, mas também pela a abertura de grandes espaços comerciais, em particular na Amadora. “Somos contra a abertura indiscriminada de grandes centros comerciais, porque há uma apetência muito grande por parte dos clientes pelas grandes superfícies, devido à oferta de muitas lojas e de estacionamento gratuito”, refere João Pedro Rodrigues, vice-presidente da ACECOA. Este responsável, também comerciante do centro da Amadora, garante que “até eu fui forçado a aderir às promoções, uma antecipação dos saldos que tenta atrair mais clientes”. “O poder de compra caiu muito e as promoções sempre ajudam a escoar o produto”, considera, acrescentando que “as promoções são um mal necessário”.
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