quinta-feira, 28 de julho de 2011

FÉRIAS NA REGIÃO - Oeiras

Respirar Natureza e inspirar bons livros
Nos dias que correm, em que a linguagem fria dos números sombrios, a soma de sacrifícios e a diminuição de regalias, enfim, a chamada austeridade, ameaçam tomar conta do quotidiano, o contacto com a Natureza pode servir de eficaz antidepressivo. Mais ainda, se a ela juntar outro poderoso agente activo contra o conformismo: um bom livro pode ser um escape, mas também o detonador – muito temido desde tempos imemoriais pelos donos do poder – de mudanças interiores ou novas visões do Mundo que nos rodeia. E, nesse arsenal, a poesia ocupa um lugar de destaque. Por isso, neste Verão não se renda, "troike" as voltas à inevitabilidade e vá ao Parque dos Poetas inspirar-se nas palavras de esperança e reflexão deixadas por alguns dos grandes vultos da nossa literatura. Leia os poemas inscritos no pavimento da Alameda central e visite, em ambos os lados, cada uma das “ilhas” onde estão as estátuas de ilustres autores que marcaram o século XX. Se quiser assinale o momento com uma fotografia que as representações em pedra são de tamanho que ilustra bem o dito de Florbela Espanca: “Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens!”. A ligação da vegetação e composição cénica de cada “ilha” com a obra do poeta foi uma regra que os autores do projecto procuraram cumprir. Outro exemplo claro é o local onde se encontra Vitorino Nemésio: a estátua tem corpo feito de ondas sobrepostas até à cabeça do escritor açoriano; em seu redor há três conjuntos de blocos de pedra negra, evocando os diferentes grupos de ilhas que compõem aquele arquipélago, e um caminho em pavimento liso salpicado de remendos, significando, talvez, as dificuldades no percurso… Vá aproveitando as sombras que aparecerem disponíveis, pois estas não abundam nos 12 hectares, já que várias das árvores existentes ainda não atingiram porte suficiente. Os conjuntos áridos de pedras, talhadas rudemente ou polidas, brancas e negras, dispostas na horizontal ou na vertical, que vão intercalando a subida da Alameda dos Poetas, podem aumentar a sensação de calor. Se correr uma aragem, é uma delícia passear lentamente, mas em caso de canícula vai apetecer correr pelo lado direito de modo a chegar depressa à Fonte Cibernética, um espelho de água com repuxos e efeitos de água refrescantes só de ver… Todavia, se puder, continue na senda dos escritores, pois há muitas estátuas para ver e poemas para ler no chão. A propósito de pedra… vem a calhar o poema de Miguel Torga: “O meu perfil é duro como o perfil do Mundo/ Quem adivinha nele a graça da poesia?/ Pedra talhada a pico e sofrimento/ É um muro hostil à volta do pomar”. Vá onde for, pode sempre descansar num dos muitos bancos de dupla direcção. Mas não desista de chegar ao topo da Alameda. Passe, ainda, por Fernando Pessoa, Alexandre O’Neill, David Mourão-Ferreira, Carlos de Oliveira, Camilo Pessanha, Mário de Sá-Carneiro, José Gomes Ferreira, Jorge de Sena, Natália Correia, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, António Gedeão, Ruy Belo e Teixeira de Pascoaes. Sem perder de vista, porém, que o Parque dos Poetas inclui, ainda, um anfiteatro ao ar livre, uma parque infantil, e um polidesportivo. E que a sua 2.ª fase (30 milhões de euros) está em curso, no final da qual, o que existe hoje terá continuidade – do outro lado da estrada onde agora o espaço termina – em mais 15 hectares de jardim, nos quais ficarão imortalizados, em esculturas, 41 poetas, dos quais 30 portugueses e 11 de países de língua oficial portuguesa, pela mão de outros tantos escultores. Para além de várias estruturas alusivas ao mesmo tema, incluindo um Templo da Poesia e até uma “Ilha dos Amores”…

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