Transporte de doentes volta a estar em causa
Os bombeiros estão zangados com o Ministério da Saúde e não aceitam os cortes nas verbas aplicados ao transporte de doentes. “Todos os poderes têm obrigação para com as pessoas. Não podem estar ao lado dos bombeiros em dias de festa e depois esquecerem que têm de os apoiar”, afirmava em tom crispado o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP), no dia da comemoração do 121.º aniversário dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas Para Jaime Silva, recentemente eleito presidente da Liga, as questões da saúde “não se resolvem com cortes e mais cortes”, para além disso “não podem ser os bombeiros a pagar o transporte de doentes”. A questão, acrescentava, é que para o Ministério da Saúde as pessoas que precisam desse transporte são encaradas como utentes, enquanto os bombeiros as vêem como doentes. O passado domingo ficava assim marcado com o murro na mesa do presidente da LBP contra o Governo. Um protesto que foi acompanhado pelo também recém-eleito presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Setúbal, Eduardo Carreira, que acredita que o Ministério irá perceber que esta decisão irá ter custos acrescidos. Aliás, para o presidente dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas, Clemente Mitra, já está à vista o resultado desta “má gestão” dos dinheiros públicos. A redução de verbas para o transporte de doentes levou a corporação a decidir não fazer este serviço nas freguesias da Cova da Piedade, Cacilhas, Laranjeiro e Feijó, todas elas zonas dentro de um raio de 16 quilómetros das instalações da corporação. Por isso, o Ministério da Saúde diminuiu o apoio na taxa de saída das viaturas. Mas parece ter-se esquecido que as despesas com a saída de cada viatura não podem ser vistas nesta perspectiva e os bombeiros “não têm capacidade financeira para assumir este serviço”, afirma Clemente Mitra. Contudo, fora deste perímetro o Ministério paga ao quilómetro o que já permite aos bombeiros enfrentarem os custos. “Se for preciso transportar doentes para a Charneca de Caparica já o podemos fazer”, diz Clemente Mitra. Com a confusão de verbas, o serviço nas freguesias vizinhas às instalações dos Bombeiros de Cacilhas “está a ser feito por corporações do Seixal e Sesimbra” e, com isto, o Ministério da Saúde “gasta mais”. Mas a indignação dos bombeiros de Cacilhas não se fica por aqui. O comandante da corporação, Miguel Silva, apontou críticas à Escola Nacional de Bombeiros, que não se fez representar na comemoração, por estar a travar a possibilidade de progressão na carreira de alguns dos bombeiros da corporação. Ao mesmo tempo lembrava que “desde 2007” que aguardam pela “formação de condutores de ambulância”, isto quando asseguram cerca de 700 emergências hospitalares por mês. Aliás os números de acção, em 2011, desta corporação com um quadro activo de 130 elementos são expressivos. Combateram 440 incêndios, actuaram em 65 fugas de gás, 176 quedas de árvores e estruturas, fizeram 8323 emergências pré-hospitalares, transportaram para consultas e tratamentos 19 113 doentes e estiveram presentes em 1382 outras actividades. Entretanto os Bombeiros Voluntários de Cacilhas vão assinar em breve um protocolo com a Marinha Portuguesa para formação. “Será um grande benefício”, afirma Miguel Silva. “Orgulhosa” com o trabalho dos bombeiros de Cacilhas está a presidente da Câmara de Almada. Para além de elogiar uma corporação que promoveu neste dia de aniversário uma mulher a 2.º comandante, Sónia Jesus, “exemplo talvez único no país”, Maria Emília de Sousa deu projecção aos protestos do presidente da LBP quando este dizia que os bombeiros “são soldados da paz, mas não tenho receio algum de fazer a guerra àqueles que puserem a nossa paz em causa”. Jaime Silva dava mostras de que os bombeiros podem vir para a rua em protesto e Maria Emília de Sousa dizia que gostaria não ter de desfilar ao lado dos bombeiros em protesto, mas se for necessário “é preciso mostrar ao poder central que tem de ter a mentalidade aberta e perceber a realidade do país”. Da parte da Câmara de Almada, diz a edil que tem respeitado todos os compromissos assumidos com as três corporações de bombeiros do concelho: piquetes de intervenção, seguros e manutenção das viaturas. “Nós em primeiro lugar olhamos para as pessoas e vamos resistir à repressão colectiva”, dizia a autarca lembrando que os bombeiros “não têm culpa da crise”. Humberto Lameiras
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