Na Paróquia de Pero Pinheiro, Marcelo Rebelo de Sousa aborda o futuro da juventude
Em tempo de crise, com o desemprego a assumir números assustadores, os jovens têm safa? Esta foi a pergunta que Marcelo Rebelo de Sousa foi desafiado a responder, no arranque do ciclo "Venha tomar café com...", uma iniciativa da Paróquia e da Junta de Freguesia de Pero Pinheiro. Com um salão paroquial repleto, na noite da véspera do 1.º de Maio, o professor Marcelo começou por justificar o ligeiro atraso com que chegou a Pero Pinheiro. "Eu nunca chego atrasado. Mas, tenho um ‘Tom Tom’, um GPS barato, muito antigo, que não tem a A16 e uma série de sofisticações e, portanto, andei um bocadinho perdido". Perdidos sentem-se, aliás, muitos jovens após acabarem o período de formação. Para o conhecido comentador político, "os jovens têm safa" mas, para isso, "têm de estar atentos aos sinais dos tempos", o que passa por estarem informados, perceberem a realidade e, essencialmente, descobrirem a sua vocação. "Num tempo de exigência e de crise, os jovens têm de fazer um esforço para se conhecerem mais e melhor", alertou o orador, embora reconhecendo que, muitas vezes, o contexto família acaba por tornar esta missão quase impossível. "Cada vez se fala menos em família. As famílias são paragens
de autocarro ou de camioneta. As pessoas cruzam-se: ‘Olá, estás bom? Vais apanhar a carreira?’/ ‘Vou, sim senhor. E tu, estás a chegar?’/Estou’". Ao longo de três horas e meia, Marcelo Rebelo de Sousa abordou o futuro dos jovens em Portugal. Professor de Direito há 40 anos, já contactou
com várias gerações. Os jovens de hoje,"num mundo em mudança de forma alucinante", estão condenados a ter "12, 15 actividades ao longo da vida", ao contrário das gerações anteriores que eram formadas "para ter a mesma profissão ao longo da vida". "Estes jovens vão ter imensas actividades ao longo da vida, vão viver mais, vão viver mais intensamente..." e tal vai acontecer em território nacional ou noutro lado qualquer. Em relação à questão da emigração, cada vez mais na ordem do dia, o professor Marcelo remeteu a decisão para a esfera pessoal. "Não sou apóstolo
de dizer ‘o problema de Portugal resolve-se se nós, em vez de dez milhões, formos seis milhões, logo quatro milhões, rua. Ou os dizimamos com uma peste ou rua...’", gracejou. Mas, também não defende "a violentação dos jovens para que fiquem cá à força". "Estes jovens tiveram a pouca sorte de apanhar uma crise no mundo, uma crise na Europa e a crise portuguesa que vem sendo arrastada e agora é mais evidente", frisou o orador, para quem o atraso do país tem raízes antigas. "A factura chegou agora, mas com parcelas muito antigas, que mostram bem os problemas de outros tempos: o atraso económico, o atraso social, o atraso educativo... Tudo isso vem ao de cima quando nos integrámos no clube da Europa". Mas, ironizou, "o país sempre viveu em crise. Começou com umfilho a bater na mãe: D. Afonso Henriques contra D. Teresa". Apesar do desemprego estar a assumir contornos cada vez mais expressivos, Marcelo Rebelo de Sousa está convicto que, após a ‘dobragem do Cabo das Tormentas’, "há novos empregos que se vão criar", nomeadamente na área social. "Vão aparecer empregos sociais no futuro, empregos em novas actividades que não se imagina. O facto de Portugal estar a ficar um país envelhecido, vai aumentar no futuro, passados estes dois/três anos mais tormentosos, os empregos sociais em torno dos idosos, de zonas de carência social mais grave e em termos das crianças", salientou o convidado. Marcelo Rebelo de Sousa desafiou ainda os jovens a participarem mais na vida comunitária. "Os jovens têm de participar na mudança desta sociedade. À medida que informados,
percebendo os problemas, e que considerem que há coisas a mudar, têm de participar: não podem seguir o caminho de que ‘isto não há ponta por onde se lhe pegue’". Para o comentador político, os jovens devem ter um papel mais activo na sociedade e podem, por exemplo, promover petições, através da Internet, ou defender causas. "Não podem é deixar cair os braços", concluiu. E, para aqueles que consideram que esta atitude não têm efeito nenhum, contrapõe que "as grande mudanças fazem-se de pequenas mudanças e o que é preciso mudar neste país, em muitas coisas, é a mentalidade, a cultura cívica, a não participação das pessoas, a impunidade...".
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