quarta-feira, 9 de maio de 2012

SINTRA - NECESSIDADES ESPECIAIS Apoio às crianças em unidade móvel


CERCITOP propõe projecto em contexto escolar

Autónomo desde 2008, o Serviço de Intervenção e Apoio à Criança da CERCITOP (Centro de Educação e Reabilitação de Deficientes de Todo o País) quer dar um novo salto e ir ao encontro dos utentes com multideficiências ou necessidades educativas especiais. Para o efeito, a instituição pretende adquirir uma unidade móvel equipada com recursos terapêuticos ajustados às necessidades das crianças, para colmatar as dificuldades de deslocação das famílias, mas, também, alargar o leque de beneficiários do apoio especializado na área da terapia ocupacional, fisioterapia, terapia da fala e psicologia. Com núcleos em Massamá (em instalações cedidas pela Junta de Freguesia) e em Mem Martins (em Ouressa), este serviço presta apoio a cerca de 85 crianças por mês, com idades compreendidas entre os zero e os 16 anos. Mas, os afazeres profissionais dos progenitores acabam por dificultar o acesso ao serviço, assegurado por uma equipa multidisciplinar. "Uma coisa é ir a uma consulta, pontualmente, outra é a necessidade de efectuar duas ou três sessões terapêuticas por semana", salienta Mafalda Rodrigues, coordenadora do serviço, que enuncia que, para além da compatibilização das rotinas, há crianças e jovens com problemas motores, que se deslocam em cadeiras de rodas, que acabam por ter dificuldades em aceder ao apoio especializado. Ao jeito de ‘se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé’, os responsáveis da CERCITOP pretendem prestar o apoio especializado nas próprias escolas, no quadro dos 11 agrupamentos com os quais têm protocolos de cooperação. Mas, também aqui se depara um obstáculo: a inexistência de "salas disponíveis nos estabelecimentos para, durante uma manhã ou um dia, uma intervenção de qualidade". Perante esta realidade, o projecto assenta em adaptar uma viatura e transformá-la numa unidade móvel, "dotada do material necessário para poder fazer avaliações e intervenções terapêuticas no contexto escolar", explica ainda Mafalda Rodrigues. Cotado na Bolsa de Valores Sociais desde Janeiro de 2010, o projecto ascende a 58,5 mil euros, para a aquisição de uma das duas unidades móveis que o serviço pretende oferecer, cinco dias por semana, numa carga horária de acordo com o número de utentes por agrupamento. "Temos tido uma grande procura para as pessoas perceberem os objectivos, mas a compra de acções tem sido mais complicada", sublinha a coordenadora do serviço que, face a este quadro, não se compromete com uma previsão para o arranque do projecto. Para além de dar resposta às dificuldades de deslocação de utentes e seus familiares, o projecto vai assegurar, também, o apoio a crianças de famílias de escassos recursos económicos ou excluídas devido à legislação em vigor mas que apresentam problemas relacionados
com dislexia, terapia da fala ou ocupacional e distúrbios emocionais ou psicológicos. "Com o decreto 3/2008 das necessidades educativas especiais, houve imensas crianças que ficaram de fora do apoio, como crianças com dislexia, défice de atenção e concentração", lamenta Mafalda Rodrigues. Nos agrupamentos escolares, a CERCITOP dá apoio a cerca de 250 crianças, mas as necessidades vão muito para além desse número. "Há muitas, muitas crianças que, neste momento, não estão a ter qualquer tipo de apoio", reforça esta técnica. "Estamos a falar de muitas centenas de crianças", sublinha José Bourdain, presidente da direcção da cooperativa de solidariedade social. "Todos os anos, quando nos candidatamos a projectos, junto do Ministério da Educação, para dar apoio às crianças nas escolas, vemos apoiado cerca de 10%/15% das necessidades", acentua José Bourdain. Numa altura em que decorre a fase de candidatura para o próximo ano lectivo, Mafalda Rodrigues tem a convicção de que, em agrupamentos que têm sinalizadas 120 crianças com necessidades educativas especiais, só serão apoiadas cerca de 20. Para responder às famílias com reduzidos recursos financeiros, o projecto prevê autofinanciar-se num prazo de três anos, mediante um sistema de pagamento dividido por três escalões: gratuito para famílias com dificuldades económicas; moderado para famílias de rendimento médio; e elevado para famílias com maior capacidade económica. Mas, mesmo neste último escalão, o valor
praticado será inferior ao cobrado por entidades privadas.  

João Carlos Sebastião

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