quinta-feira, 3 de maio de 2012

CRIL Um ano de queixas e benefícios


Entidades traçam balanço positivo, utentes também

Há um ano, José Sócrates, então primeiro-ministro, inaugurava a conclusão da controversa via que permitiu a ligação de Algés (Oeiras) a Sacavém (zona Norte de Lisboa). A CRIL (Circular Regional Interna de Lisboa) foi, finalmente, concluída após mais de 20 anos de avanços e recuos, num processo marcado pela contestação. Embora seja reconhecida a sua importância, as críticas mantém-se, mas para outros a via veio contribuir para uma melhoria da qualidade de vida. Teresa Barata é moradora no Alto da Mira, Casal de São Brás. Esta trabalhadora em Almada garante ter ganho muito com a abertura do último troço da via. “Passei a entrar na CRIL junto ao Casal da Mira, em direcção aAlgés, saindo rumo à A5 para chegar à Ponte 25 de Abril. Anteriormente este percurso era feito pelo centro da Amadora e frequentemente apanhava muito trânsito, mas neste momento não necessito de o fazer, poupando em média cerca de 15 minutos em cada viagem, cerca de 30 minutos no final do dia”. Esta munícipe assegura que o percurso até ao trabalho passou de cerca de 40 minutos para ser feito em menos de meia hora, poupando “não só em tempo, mas também em gasolina”. Já o vereador responsável pela mobilidade na Câmara Municipal da Amadora (CMA), Gabriel Oliveira, que sempre pugnou pela construção da via apresentado projectos alternativos aos que haviam sido avançados até então, considera que “a conclusão da via só teve aspectos positivos”. “Reduziu-se substancialmente o trânsito de passagem do centro da Amadora, temos neste momento menos trânsito dentro da cidade, em particular nas horas de ponta. Uma via que beneficia os residentes na Amadora, mas também de outros concelhos”, afirma Gabriel Oliveira. Para o responsável autárquico, a obra veio trazer ainda uma melhoria do espaço público “porque toda a zona foi requalificada” e “ao nível do ruído os impactos estão muito abaixo do estimado”, revela. Gabriel Oliveira adianta, no entanto, que “ainda há coisas por resolver como a construção do caneiro na Damaia, cuja obra terá início até ao final do ano, assim
como ao nível dos prejuízos causados aos moradores pelos impactos das obras que estão neste momento a ser negociadas entre as Estradas de Portugal e as companhias de seguros”. Quanto ao muro que acabou por ser erguido na Damaia, o vereador reconhece que “aquela não tinha sido a nossa solução, mas um ano depois tudo parece mais pacífico, com aquelas populações a habituarem-se aos novos espaços”. 

Segunda Circular maior beneficiária 
Segundo os números da empresa Estradas de Portugal, a abertura do último troço da Circular Regional Interna de Lisboa permitiu retirar entre 50 a 60 mil carros por dia da Segunda Circular. No que respeita ao escoamento do trânsito, a abertura do último troço da CRIL “excedeu as expectativas”, segundo o administrador da EP, Rui Nelson Dinis. “Tornou-se numa das vias mais utilizadas por quem precisa de se deslocar aos concelhos de Loures, Odivelas, Lisboa, Amadora e Oeiras”, afirma. Em entrevista à Agência Lusa, o responsável disse que a Segunda Circular (via já dentro da capital) foi a grande beneficiária desta abertura. Dados da EP que comparam o tráfego entre Janeiro de 2011 e Janeiro de 2012, entre a rotunda do aeroporto e o Campo Grande, na Segunda Circular, mostram que se registou uma redução de 72 mil veículos por dia. No entanto, só entre 50 a 60 mil se devem à CRIL – os restantes são resultado da quebra de tráfego resultante da crise. “No troço novo circulam 50 mil carros por dia. O aumento global nos restantes troços anda na ordem dos 20 mil por dia”, indicou Rui Nelson Dinis. Segundo o administrador, há um ano as projecções apontavam para benefícios económicos directos entre os 20 e os 25 milhões de euros por ano com a construção do último troço da CRIL. Hoje, “esse número foi globalmente atingido”. Rui Nelson Dinis salientou ainda a segurança daquela via, frisando que não há registos de mortes em acidentes na CRIL. Desde o início do ano, registaram-se oito acidentes, dos quais não resultaram feridos graves ou ligeiros. O último troço da CRIL liga a Pontinha (Odivelas) à Buraca (Amadora), tem 3,6 quilómetros e foi inaugurado a 17 de Abril de 2011. O projecto do último troço levou um morador da zona abrangida a interpor uma acçãocontra o Ministério das Obras Públicas e a Estradas de Portugal para pedir a anulação da declaração de utilidade pública urgente para as expropriações, alegando que a obra “viola manifestamente não só a Declaração de Impacte Ambiental emitida, como as regras da Lei de Bases do Ambiente”. Um processo que ainda decorre nos tribunais. A obra motivou desde logo a contestação de associações de moradores da zona envolvente – Santa Cruz de Benfica (Lisboa) e Alfornelos, Damaia e Venda Nova (Amadora), que ainda acusam o Governo do PS de ter prestado falsas declarações e apresentado inicialmente fotomontagens distorcidas da empreitada que não correspondem à intervenção efectuada. Os residentes têm protestado não só contra o impacto ambiental (tendo em conta a proximidade dos edifícios), mas também devido a alguns estragos dentro das habitações. Até agora não viram o problema resolvido. 
Milene Matos Silva, com Lusa

Sem comentários: