Após abertura da Cozinha, a Sala de Jantar é o próximo espaço a integrar o circuito normal de visita do Palácio
A partir do final de Maio, os visitantes do Palácio de Monserrate vão poder apreciar a Sala de Jantar devidamente restaurada, após a conclusão de uma intervenção, que ascende a 27 mil euros, que promete devolver o esplendor aos revestimentos arquitectónicos da dependência. Após a Biblioteca, a Sala de Jantar será o segundo espaço integralmente restaurado ao nível das diferentes superfícies e elementos decorativos, como estuques, lareira, pavimentos, azulejaria, caixilharias de portas e janelas e, no caso da copa anexa, o mobiliário integrado. Desde a passada semana, os visitantes também já podem visualizar a Cozinha do monumento, cuja principal atracção reside num fogão que se encontrava em avançado estado de degradação, acompanhado por um conjunto de utensílios adquiridos em Inglaterra. À semelhança do que aconteceu com as intervenções já realizadas, o restauro da Sala de Jantar, em curso desde o final de 2011, decorre à vista dos visitantes, seguindo a estratégia de “aberto para obras” definida pelos responsáveis da Parques de Sintra-Monte da Lua (PSML). Numa extensa área de 240 metros quadrados, técnicos da empresa Samthiago oriunda de Viana do Castelo e com um vasto currículo na reabilitação de núcleos patrimoniais, incluindo a Cidadela de Cascais, procedem
ao restauro dos estuques, o principal elemento decorativo da sala. “Liso ou moldado, em relevo ou em peças destacadas, (o estuque) reveste a totalidade das paredes segundo uma composição de elaborado desenho”, pode ler-se num painel que elucida os visitantes em relação aos trabalhos em andamento. As camadas de tintas aplicadas ao longo de muitas décadas, mais de um século, atenuaram o relevo original e obrigam à sua remoção. “São tintas com mais de 100 anos, que têm tendência a endurecer, e a sua remoção foi muito difícil, tendo para isso de usar-se métodos por via química e mecânica, como a utilização do bisturi”, explica Carla Pereira, responsável da Samthiago. Para trás ficou “uma sala completamente escura”, que implicou mesmo a aplicação de biocida, para a eliminação de fungos, e que está a escassas semanas de ficar integrada no circuito normal de visita, embora sem mobiliário. A Copa anexa também está a ser alvo de restauro e, neste caso, o mobiliário integrado, bancada de lava-loiça, estante de canto, móvel do monta pratos e armário alto, vão recuperar a sua funcionalidade. Já disponível aos olhos dos visitantes, no piso inferior até agora fechado ao público, está a Cozinha, que ostenta um fogão do tipo de chama invertida, em que “o ar ambiente penetrava nas câmaras de combustível e, após queima, era aspirado por um canal aberto no pavimento até ao tubo-chaminé na parede do edifício, junto ao monta-pratos”. Para o restauro do fogão, foi necessário estudar um equipamento semelhante que se encontra no Museu Nissim de Camondo, em Paris, tendo os elementos corroídos sido substituídos e superfícies tratadas e protegidas com material semelhante ao original. Longe vão os tempos em que um carvalho invadiu a cozinha e obrigou à reconstrução da parede exterior, complementada por outras intervenções como o reforço estrutural da zona do monta-pratos.“O que pretendemos agora é efectuar o restauro, a pouco e pouco, de um espaço de cada vez, de modo a alargar, cada vez mais, o circuito de visita”, salienta Luísa Cortesão, a arquitecta que coordena o projecto de recuperação do Palácio de Monserrate, iniciado em 2007, e que contou com financiamento do mecanismo europeu EEA-Grants. “Em 2007, abrimos para obras”, recorda a arquitecta, que salienta a intervenção realizada no domínio das infra-estruturas.Para o efeito, foi construída uma galeria técnica, com uma extensão superior a 40 metros, que alberga as redes infra-estruturais, ao nível de esgotos, abastecimento de água, electricidade e aquecimento. Antes, em 2001/2004, decorreu a reabilitação das coberturas, “uma obra essencial para parar os processos de degradação que estavam em curso”. “Só vamos intervencionar um espaço de cada vez”, revela Luísa Cortesão, sem se comprometer com um prazo para a conclusão das obras, até porque o financiamento se resume, desde meados de 2010, a verbas próprias da PSML.Mas, a arquitecta também enaltece o cariz didáctico da própria intervenção. “Mais do que ter um palácio todo restaurado, é importante ter um palácio que mostra como decorre o restauro”, salienta esta técnica, que alude às especificidades das obras. “Nós removemos tintas com bisturi, para não ferir o estuque que está por baixo”, realça, apontando para uma aluna da Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra que, no corredor, se dedica a essa “hercúlea tarefa”. Enquanto o piso dos quartos vai acolhendo exposições, a última das quais dedicada às dez cidades mexicanas classificadas como Património da Humanidade, a Sala da Música tem recebido um conjunto de eventos, embora ainda careça de intervenção de reabilitação, tal como sucede com a Sala de Bilhar, “a que melhor se manteve ao longo do tempo” e ostenta alguns painéis relativos ao projecto de recuperação do monumento. Em pior estado está a Sala Indiana, “que tem metade do tecto perdido e que, quando chegámos cá em 2007, ainda estava escorada com uma estrutura de andaimes”. “Esta sala será a última a ser recuperada e deverá servir como testemunho, para que as pessoas compreendam o que pode acontecer a um edifício que não tem manutenção corrente e com problemas na cobertura”, revela Luísa Cortesão.
João Carlos Sebastião
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