Sindicato dos Pescadores alerta para a situação que afecta armadores e tripulantes de 60 embarcações da Docapesca
Tal como os velejadores que vêm ocupar o lugar que há muito era seu na Docapesca de Pedrouços, também os pescadores profissionais das áreas fluviais e marítimas mais próximas de Lisboa enfrentam duras provas, diariamente, quando deixam terra firme. Para além dos perigos quando sopram maus ventos e dos preços irrisórios pagos pelo peixe que trazem nos barcos, sentem na pele a falta do que mais abunda nos barcos à vela que vêm a Lisboa competir na Volvo Ocean Race: apoios à sua actividade. A começar por um porto de pesca digno desse nome. Por causa dessa ‘injustiça’ os homens do mar estão dispostos a estragar a festa náutica internacional que atraca na capital portuguesa a 31 de Maio. No próximo dia 18, os pescadores reúnem-se com a Secretaria de Estado das Pescas, num último esforço para conciliar posições. Não muito longe de Pedrouços, a Praia Velha de Paço de Arcos surge cada vez mais como uma possível solução, ainda que subsistam, aparentemente, divergências entre a Câmara de Oeiras e a Administração do Porto de Lisboa (ver caixa). Para os pescadores a hora é de exigir uma solução duradoura e de futuro. “Já chega de sermos tratados como um estorvo, é inaceitável que Lisboa não tenha um porto de pesca”, resume Joaquim Piló, na sede do Sindicato Livre dos Pescadores (SLP) que está por dias até ir abaixo, obrigando à transferência para Santos. Se a mudança se confirmar, ficará perto da estação de comboios e da doca para onde a Administração do Porto de Lisboa (APL) quer que vão agora armadores e tripulantes de 60 embarcações que até há poucos meses acostavam na Docapesca. “Só iremos para lá com garantias de que a mudança é provisória, de que vão construir um porto de pesca com as condições necessárias, e com a certeza de que alguém se responsabiliza pelas embarcações e os materiais; caso contrário, estamos dispostos a enfrentar a polícia de choque se for preciso”, garantiu o presidente daquela estrutura sindical, com a indignação bem espelhada na voz. A hipótese de irem para a doca de Santos não agrada aos pescadores. Sentem-se como um polvo a entrar no covo que o há-de prender por mais que esbraceje depois. “Onde é que vai caber todo este material em Santos?”, pergunta Piló, apontando os montes de artes do mar acumulados no cais da Docapesca, ao longo de largas dezenas de metros. “Em Julho, tudo o que está no mar vai ter de ser trazido para terra, para lavarem e arranjarem tudo porque é o defeso do polvo, por três meses. Onde é que vão pôr tudo isso?”. Como se não bastasse, “os restaurantes não nos querem lá, mas há uma coisa que eles vão ter de perceber: homens domar é fogareiro e carvão para assarem peixe, panelas e tachos para as caldeiradas. Porque a vida do mar é assim e não podem cortar a cultura das pessoas de um momento para o outro”. Ademais “os turistas até apreciam…”. Na Docapesca, contrapõe, “chegavam a estar cerca de 100 embarcações e cabiam todas. Antes de 2003, descarregavam 40 a 50 embarcações por dia”. Agora, resta ir para a Trafaria, onde foram realizados “alguns melhoramentos por pressão do nosso sindicato”, mas as obras mais avultadas acabaram por não se realizar, devido a razões várias, incluindo ambientais, o que torna aquela lota – a única no estuário do Tejo, após o fecho da doca de Pedrouços, onde os pescadores artesanais podem ir descarregar o peixe – insuficiente para o fluxo de pescado. “Não se quis gastar 18 milhões no porto de pesca na Trafaria e agora vão gastar aqui rios de dinheiro numa regata de 10 dias para depois darem tudo a alguém. É como o BPN!”, protesta o líder do SLP. Bem melhor seria a opção Paço de Arcos. “Nós defendemos essa alternativa. Vamos pedir uma reunião com o presidente da Câmara de Oeiras para saber a sua posição”, anuncia o dirigente sindical, embora com algumas reservas, já que “em princípio, o que a Câmara pretendia era quase tudo para recreio e uma miniatura para a pesca, só para as poucas embarcações que lá estão”. Sem querer interferir nas negociações que decorrem entre APL e a autarquia oeirense, sempre vai adiantando que, na sua opinião, “para gastarem dinheiro mais vale gastar numa coisa como deve ser…”. Já vai sendo tempo, diz, depois “do crime lesa-pátria que foi o fecho da Docapesca”. Jorge A. Ferreira
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