quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Saúde concentrada em Paço de Arcos

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Ponto final no Atendimento Complementar nas unidades de Linda-a-Velha e de Oeiras A partir do próximo dia 5, aos sábados, quem precisar de um curativo, injecção ou consulta de urgência, passa a ter um único local, em todo o concelho de Oeiras, para obter os serviços de que necessita. Com o objectivo de “uma utilização mais eficiente dos recursos humanos e materiais”, foi tomada a decisão de passar o Atendimento Complementar, que se realizava na extensão de Linda-a-Velha e no Centro de Saúde de Oeiras, para o Centro de Saúde de Paço de Arcos, mantendo-se o horário das 9h00 às 13h00. A medida foi tomada, recentemente, pela direcção do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Oeiras/Carnaxide, com a justificação de que o fluxo de pessoas no Atendimento Complementar – que, antigamente se efectuava aos dias da semana, fora do horário normal de expediente e, entretanto, ficou reduzido aos sábados – evidencia “uma diminuição contínua de utilizadores”. Algo como “10, 15 pessoas, em média”, garantiu ao JR Vítor Cardoso, director-executivo daquele ACES, considerando que a manutenção da situação tal como estava configurava “um desastre económico, um desperdício de recursos, uma gordura evidente”. Apesar dos avisos afixados, a medida ainda era desconhecida de muita gente quando, no passado sábado, o JR esteve nos dois núcleos de saúde afectados. E as reacções auscultadas não foram favoráveis, sobretudo pela falta de alternativas em transportes públicos para quem não tenha carro. Problema que também motiva alguma apreensão em juntas de freguesia contactadas pelo JR, embora se reconheça “racionalidade” na medida. Para os utentes, porém, o que não é racional é terem de apanhar um autocarro, um comboio e, ainda, o fantasmagórico (agora, talvez menos, aos sábados) SATU-O para serem atendidos naquele dia da semana. Foi essa a opinião partilhada por Américo Simões, de 74 anos, morador em Queijas, e que se deslocou à extensão de Linda-a-Velha (do Centro de Saúde de Carnaxide) para receber uma injecção. “Por acaso, uma pessoa amiga deu-me boleia de carro; caso contrário, teria de ir até Caxias de autocarro, aí apanhar o comboio para Paço de Arcos e, depois, o SATU-O ou ir a pé por ali acima”, antecipou, concluindo: “Sobretudo se uma pessoa estiver de muletas como eu, é muito tempo de viagem, muito incómodo e mais dinheiro gasto”. Inegavelmente, para os munícipes mais próximos da extensão de Linda-a-Velha e sem carro ou possibilidade financeira de usar táxi – uma franja, alegadamente, em número residual, segundo o ACES – a receita agora aviada para “manter a qualidade da assistência com uma utilização mais eficiente dos recursos humanos e materiais” não traz melhorias. “Claro que ir de Queijas para Linda-a-Velha é muito mais directo, basta apanhar um autocarro”, reconheceu ao JR António Rocha, vogal da Junta de Freguesia de Queijas. Embora admitindo que “o atendimento ao sábado já tinha poucos utentes”, aquele autarca veria com bons olhos uma resposta em termos de transportes para estes casos. “Na verdade, todo o concelho passa a ir para Paço de Arcos e nem toda a gente tem carro”, reforçou, convicto de que a Câmara de Oeiras “estará atenta ao problema”. A perspectiva é semelhante na Junta de Linda-a-Velha. “Claro que melhor não será para quem mora na freguesia e arredores, pois, sem carro, é preciso ir de autocarro para Algés, apanhar comboio para Paço de Arcos e o SATU-O”, antecipa Carlos Moreira, presidente da Junta de Freguesia, afirmando, porém, compreender a medida. Quase no outro extremo geográfico do concelho, no Centro de Saúde de Oeiras, a notícia do fim do Atendimento Complementar – facto ainda desconhecido por muitos dos utentes, conforme se apercebeu o JR nos dois locais alvo da medida – também teve críticos. Ao contrário do congénere de Linda-a-Velha – onde em apenas cerca de meia hora, o JR viu entrar, pelo menos, uma dezena de utentes – a unidade localizada na sede do município estava quase deserta. A excepção era o casal Guerra. Maria Francelina, de 85 anos, tropeçara, na noite de véspera, num buraco da calçada perto de casa e os efeitos ficaram bem visíveis numa das suas pernas. Pela manhã de sábado, com o marido, pôs-se a caminho do Centro de Saúde de Oeiras. Sem carro próprio, pagou “quase quatro euros” por um táxi, mas no regresso, mais tranquila quanto ao ferimento, fez o sacrifício de voltar a pé para casa (nas proximidades da estação da CP de Santo Amaro de Oeiras). “Gastar oito euros num táxi é um luxo a que não nos podemos dar”, sublinhou o casal, lamentando o encerramento daquele centro de saúde aos sábados. Apanhando comboio para Paço de Arcos, mais o SATU-O, “perde-se muito tempo, indo de táxi fica muito caro”, antecipam. Restaria a hipótese do Combus, mas o casal afirmou desconhecer ligação e horários...

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