Para evitar a emigração, o pintor Telmo Vaz Pereira é há algum tempo recepcionista num edifício empresarial
Não, não é engano! Sim, é verdade... já viu esta cara em algum sítio. Telmo Vaz Pereira é controlador das entradas e saídas dos edifícios Arquiparque, parque empresarial em Miraflores, emprego que encontrou há alguns meses para fazer face às despesas, sem nunca deixar o seu verdadeiro trabalho: artista plástico. Natural de Luanda, Angola, Telmo é acima de tudo um cidadão do mundo. Já viveu em Londres e em Paris, por exemplo, e todos os anos viaja para os mais variados pontos do Globo. Na bagagem traz com ele sempre parte do território que pisa e não é só na mente. “Tenho uma ligação especial com a terra e trago sempre areia das viagens que vou fazendo”, conta-nos o pintor, ao mesmo tempo que nos deixa sentir a textura de uma das suas últimas obras em que aplicou areia trazida de um destino longínquo. Com um currículo vasto, de onde sobressai o Curso livre de Pintura, Gravura e Litografia, no Sir George Wallace School of Fine Arts, em Londres, ou o estágio no Atelier Michel Vallois, em Paris, ou ainda a participação na colecção de arte pública do New Museum of African Contemporary Art, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, Telmo Vaz Pereira há muito que já não expõe os seus trabalhos em Portugal. “As exposições aqui só servem para embelezar as paredes das galerias, porque ninguém compra peças”, desabafa, revelando estar a preparar para Setembro uma exposição em Barcelona, cidade onde encontra “muitos coleccionadores de arte”. O próprio mercado angolano é muito mais forte que o actual em Portugal, mas a guerra de outrora obrigou-o a sair da sua terra natal. “Dei por mim a beber uma garrafa do ‘whisky’ todas as noites para suportar o barulho dos tiros, até que percebi que assim estava a tornar-me alcoólico. Tive que sair de lá e vim para Portugal onde tenho um filho”, justifica. Para além da pintura, onde os tons quentes da terra estão sempre em especial evidência, Telmo Vaz Pereira também se dedica à escultura, apesar de isso requerer um espaço muito maior para trabalhar, e à fotografia. Actualmente, o artista está num ateliê em Benfica, sempre que o trabalho em Miraflores o permite. “Quando procurei emprego pensei logo numa função assim do género para poder ter tempo para continuar com os meus trabalhos”, explica, referindo- se aos turnos onde enfrenta 12 horas seguidas, de modo a ter folgas a cada dois dias de trabalho. Enfatizando que “a lei da sobrevivência” é a ditadura dos novos horários que abraça, Telmo Vaz Pereira mostra-se tudo menos desgastado e encontra nestas “dificuldades” alento, e até inspiração, para empregar na sua arte.
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