Instituição inaugura Sala de Snoezelen
O quarto da Mimi, à primeira vista, é igual a tantos outros. Há fotos sorridentes com familiares e objectos decorativos habituais num quarto de adulto. É preciso reparar no teclado adaptado para perceber que Mimi – ou Cremilde, de 41 anos – tem necessidades especiais. Coladas a cada um dos lados do computador há folhas com exercícios de Inglês que esta utente do Centro Nuno Belmar da Costa (CNBC), pertencente à Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, ainda vai fazer e enviar por ‘e-mail’ para a professora (voluntária) corrigir e reenviar. Uma preciosa ajuda, já que Mimi não pode comunicar oralmente... O que não a impede de participar em diversas actividades intelectuais, para além de jogar Boccia. No quarto de Vítor, o que dá mais nas vistas são os quadros e as paletas de cores à espera de pincel. Ou não fosse alguém entusiasmado com a pintura e que até tem alguns dos seus trabalhos espalhados pelas instalações do Centro. Além do mais, na Festa da Primavera, ali realizada há poucas semanas, o Vítor fez parte do grupo de concorrentes que, bem mascarados, venceram o festival “CNBC Tem Talento”, um evento que, jura quem assistiu, teve muito mais alegria e emoção do que o concurso televisivo. Há, ainda, o quarto da Rosarinho, que parece ter sido submergido por uma onda de tinta cor-de-rosa, já que a sua ocupante colecciona tudo o que lhe apareça à frente com aquela tonalidade; o quarto do João Martins que, naturalmente, ostenta as vitórias alcançadas em vários Jogos Paralímpicos (a última das quais uma medalha de bronze em natação obtida em Pequim); e há muitos outros quartos – incluindo dois de casal – todos eles com WC e varanda, personalizados de acordo comos gostos de cada um,mas onde o denominador comum são os sorrisos para a posteridade captados durante as muitas iniciativas realizadas, regularmente, dentro e fora do CNBC. Actualmente, o Centro é a casa de 29 utentes, uns há mais tempo do que outros, pois a instituição foi crescendo de instalações desde que foi fundada, estão agora a cumprir-se 29 anos. A este grupo interno juntam-se 23 outros utentes que, todos os dias, ali chegam,
de manhã cedo, vindos de outras instituições ou de meio familiar para participarem nas actividades do Centro. Estas dividem-se em áreas de intervenção transversais (psicologia, fisioterapia, terapia ocupacional), outras que são permanentes (ateliês com produção e venda de peças, educação física e desporto, actividades cívicas e religiosas, actividades pedagógicas) e, outras ainda, que tem carácter mais pontual, embora regular (passeios, festas, sessões culturais, etc.). Desde há poucos dias, há uma nova fonte de bem-estar no CNBC: a Sala de Snoezelen, que vai ser inaugurada na terça-feira, dia 19, e promete aumentar a qualidade de vida dos utentes, promovendo relaxamento e estímulos inovadores às capacidades mais em perda (ver caixa).Trata-se deuminvestimento em contraciclo, tendo em conta a crise que flagela o país e que levou a contenção, também, a entrar nesta instituição, situada em Nova Oeiras. “Claro que a Sala de Snoezelen, numa altura destas, era impossível de suportar para a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa”, reconhece Odete Nunes, coordenadora técnica do CNBC, louvando a acção solidária do Rotary Club de Oeiras e da fundação internacional deste movimento, que disponibilizaram uma verba na ordem dos 16 mil euros. Mesmo assim, o Centro também teve de investir na manutenção deste equipamento e na compra de uma grua para movimentar os utentes dentro da sala. A isso se somam múltiplas outras despesas. “Esta é uma casa muito grande e tem custos muito elevados porque qualquer peça de um elevador é uma despesa enorme, mais água e luz, sem esquecer que entre os nossos utentes, ao contrário do que se passa num lar de idosos, quase nenhum tem autonomia que dispense uma grua e dois auxiliares”, faz notar Odete Nunes. Não estranha, por isso, que o número de funcionários tenha diminuído nos últimos anos, estabilizando hoje em 69. Ainda assim, “acima do mínimo exigido por lei”. O que não está em causa são os meios para as actividades já ali realizadas. O jornal “Sobre Rodas” é um bom exemplo dessa perseverança emmanter a qualidade dos cuidados prestados. A impressão dos 100 exemplares era garantida, até há pouco tempo, pela Câmara de Oeiras, que decidiu deixar de fornecer este serviço no quadro das contenções orçamentais da edilidade. Ciente da importância do jornal – em que os repórteres são os próprios utentes, com textos e fotos relativos a experiências por si vividas – Odete Nunes não descansou enquanto não encontrou uma alternativa, com a ajuda do presidente da Junta de Freguesia de Oeiras, Carlos Morgado. De igual modo, a instituição tem beneficiado da exibição graciosa de grupos de canto e dança, e do apoio de empresas. Sem esquecer as doações, por vezes, saídas da emoção de ver a felicidade no rosto dos utentes do CNBC. “Um empresário de Cantanhede veio cá ver uma exposição nossa e acabou por deixar um cheque para custear a iniciativa, estava mesmo comovido”, recorda ainda Odete Nunes.
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