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Faltam recursos humanos e viaturas na corporação de bombeiros de Paço de Arcos
Aos 117 anos de vida, comemorados no passado sábado, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários dePaço de Arcos evidencia empenho e dedicação à prova de fogo, mas não esconde que precisa de mais meios materiais e humanos para melhor desempenhar a sua missão. Desde que os quartéis de voluntários perderam a sua atracção de convívio social e passaram a reflectir as exigências legais cada vez mais apertadas sobre quem pretende dar um contributo a esta força de socorro, que se verifica uma diminuição do fluxo de candidatos a "soldados da paz". Já quanto a viaturas, o que tem valido é omercado alemão em 2.ª mão... Foi, sobretudo, em torno destas linhas basilares da actividade da corporação cuja área de intervenção abarca as freguesias de Paço de Arcos e de Caxias que o JR conversou com o comandante Luís Silva. Mas, num dia marcado pelas intempéries (sexta-feira passada), não faltaram os conselhos aos munícipes no sentido de se prevenirem para estas situações de risco, tanto mais que o nosso interlocutor é, igualmente, coordenador da Protecção Civil. "A nossa missão é socorrer e não limpar algerozes, ou vedar janelas. Isso é o que as pessoas deveriam fazer antes das chuvas", admoestou o responsável. Cenas que se repetem ano após ano e já são 34 desde que Luís Silva entrou para a corporação, quanto tinha 14 anos. Nessa altura, o dia-a-dia no quartel era muito diferente. "Não havia centros comerciais, ia-se ao cinema a Oeiras, passava-se nos bombeiros primeiro, no regresso passava-se por lá outra vez... Via-se o voluntariado como uma casa de convívio; agora têm de vir quase por obrigação, sabendo que há regras para cumprir e sem nunca esquecer que há pessoas cuja vida depende do nosso socorro". O problema – conclui – é que "cada vez há menos espírito de solidariedade e muita gente pensa: Vou ajudar e ainda estão com exigências?!...". E, de facto, não é qualquer um que chega ao fim do curso indispensável para se ser bombeiro, o qual demora cerca de seis meses, três dias por semana, em horário pós-laboral e fins-de-semana. "Não é por acaso que os cursos iniciais de bombeiro que começam aqui com 10, 15, 20 elementos acabam sempre com metade", confirma Luís Silva. Reflexo dessa escassez de recursos humanos, não é raro que as equipas de prevenção se apresentem algo desfalcadas. "Por vezes, tenho aí piquetes sócomdois ou três voluntários de reforço ao pessoal assalariado, quando o razoável seria ter umaguarnição para umpronto-socorro e para uma ambulância, ou seja, sete a oito elementos. Porque se há um acidente saem logo nove pessoas e se, entretanto, aparecer aqui uma urgência eu tenho de recorrer a outro corpo de bombeiros do concelho", expõe o comandante. Sendo certo que com a Marginal e a A5 por perto é normal haver dias de dois, três, quatro acidentes num curto espaço de tempo. Actualmente, a corporação tem cerca de 90 bombeiros, de todos os quadros, além de 23 assalariados na parte operacional. Quanto a meios materiais, a situação também não é a melhor. A frota de viaturas vai sendo renovada a conta-gotas e muito graças ao mercado alemão, onde se podem comprar pechinchas “em muito bom estado”. É o caso da auto-escada que a Associação Humanitária adquiriu o ano passado com dinheiro próprio. "É um carro com 15 anos e estava como novo, já que os alemães normalmente abatem estes veículos após 25, 30 anos de uso. Teve problemas numa peça e eles foram logo comprar uma mais moderna", conta Luís Silva, satisfeito: "Um carro destes novo custa 600 mil euros, nós demos 30 mil por ele". Por ora, o que faz mais falta é um novo veículo urbano de combate a incêndios. "O único que temos é pequeno e está desajustado à nossa área de intervenção", diagnostica Luís Silva, lembrando que a corporação acorre, em média a quatro, cinco incêndios urbanos por mês. Mas se, apesar de tudo, este veículo está em bom estado, já a viatura que no Verão combate fogos florestais em vários pontos do país revela muito "cansaço", mesmo que tenha 15 anos e apenas 20 mil km. "Sai excepcionalmente do distrito de Lisboa, mas já tem muitas horas de bomba e ainda este ano aconteceu falhar quando estava em acção em Arcos de Valdevez, foi preciso mandar vir peças da Alemanha, esteve parado bastante tempo...". O que é de lastimar, pois trata-se de um carro muito versátil, também usado em cenário de inundações, pois pode circular com água pelas portas e até no interior. Ao todo, a corporação de Paço de Arcos tem 16 viaturas. Além das acima referidas, existem quatro ambulâncias de socorro, três de transporte múltiplo, um auto-tanque, uma viatura de comando, um veículo desencarcerador, dois carros auxiliares, bem como um carro específico para suportar a logística dos oito mergulhadores que fazem parte da corporação e, ainda, três barcos que, no Verão, fazem vigilância às praias. Quanto a receitas, “vamos sobrevivendo com apoios da Câmara e com os serviços prestados (transporte de doentes e as emergências médicas)”, explica Luís Silva. Bailes é que não. “Até temos um bom salão para isso, mas não vale a pena tanto trabalho e tantas despesas para, no final, ter um lucro de 100 ou 200 euros”...
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
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