quinta-feira, 31 de março de 2011

‘Um hospital articulado com o Amadora-Sintra’

Ver edição completa Administrador do Hospital Fernando da Fonseca, Artur Vaz, considera que não faz sentido uma unidade autónoma Uma extensão do Hospital Amadora-Sintra (HAS) é o único projecto que poderá avançar no concelho nos próximos anos. A opinião foi deixada por Artur Vaz, presidente do conselho de administração do HAS, na sessão da Assembleia Municipal de Sintra (AMS), dedicada à problemática da Saúde no concelho, que decorreu na passada quarta-feira. "Sintra deve ter um hospital que esteja integrado e funcione de forma articulada com o Hospital Fernando da Fonseca. Em termos de internamento não precisamos de mais camas, a não ser em cuidados continuados e paliativos, mas seria um hospital com gestão articulada e a utilização de recursos mútuos na Amadora e em Sintra", frisou Artur Vaz, para quem "não faz sentido replicar o Hospital Fernando da Fonseca no concelho de Sintra". Em causa estão os custos financeiros da construção de uma unidade de raiz, mas também as próprias necessidades dos dois concelhos. Com uma área de influência superior a 700 mil habitantes, o principal problema do HAS assenta na Urgência, a segunda maior a nível nacional, a seguir ao Hospital de São João, no Porto, com 275 mil urgências anuais. "O hospital não está a ‘rebentar pelas costuras’, a não ser no Serviço de Urgência, onde efectivamente isso acontece, e nas alturas de pico, com o cair da folha, entre Novembro e Fevereiro/Março, em que temos dificuldades em gerir as nossas camas", garantiu o administrador hospitalar. "O que estamos a fazer é meter o Rossio na Rua da Betesga", ironizou Artur Vaz, aludindo ao Serviço de Urgência da unidade. "Temos uma porta muito estreita, por onde tem de entrar muita gente ao mesmo tempo". A Urgência Geral chega a ter uma média de 362 a 431 utentes por dia, mas com picos que podem atingir os 700 pacientes. E, desengane-se quem considerar que estamos a falar de falsas urgências. Com recurso à triagem de Manchester, chega-se à conclusão que apenas 30% dos atendimentos merecem sinalização verde ou azul, sinónimos de casos menos graves. A futura unidade hospitalar de Sintra, segundo Artur Vaz, deve privilegiar o ambulatório, "porque as cirurgias cada vez precisam menos de internamento", e poderia incluir entre 90 a 120 camas destinadas a cuidados de convalescença e paliativos, "por causa do envelhecimento da população". Aliás, o HAS está a ser confrontado com inúmeros casos sociais, de idosos que são deixados na unidade e não têm apoio familiar de retaguarda e aos quais, por isso, não pode ser dada alta. Também este factor, que se sente com particular incidência no concelho da Amadora, acaba por limitar a capacidade de resposta. "Estamos a assistir que, por falta, eventualmente, de uma actividade mais intensa por parte dos cuidados de saúde primários (centros de saúde), os mais idosos acabam por ter como única porta de entrada no sistema o Serviço de Urgência do Hospital", frisou Artur Vaz. Hospital apontado à Messa OHAS efectuou um estudo para avaliar a melhor localização para uma unidade hospitalar em Sintra, "para melhorar a acessibilidade ao máximo de população do concelho", tendo a antiga fábrica da Messa, "que foi indicada pela Câmara, onde está hoje o SUB", registado indicadores positivos. Mas, durante a sessão da AMS, Artur Vaz revelou que desconhece em que ponto se encontra o processo do Hospital de Sintra: "Se me perguntarem qual é o ponto de situação sobre o Hospital de Sintra, não faço a mínima ideia. Sei que, de vez em quando, dizem que o HAS tema culpa, mas não temos nenhuma legitimidade para mandar construir um hospital, nem sequer temos dinheiro". Mas, também há dúvidas em relação à forma como uma futura unidade em Sintra se enquadra na rede hospitalar da região de Lisboa. "Não sei o que vai acontecer à armadura de hospitais em Lisboa, depois de se ter aberto o Garcia d’Horta (Almada), o Fernando da Fonseca (em 1995), o novo Hospital de Cascais, o novo Hospital de Loures que vai abrir para o ano e o novo Hospital de Vila Franca de Xira", numa altura em que a capital está a perder habitantes. Santa Maria, por exemplo, vai perder 50 por cento de utentes para o novo Hospital de Loures. Em relação ao financiamento, Artur Vaz estima que o Hospital de Sintra implique um investimento de "50 a 70milhões de euros", mas "depende do perfil e do equipamento que for instalado". Números que não podem ser assumidos pelo HAS, revelou o presidente do conselho de administração. "O Hospital Fernando da Fonseca tem um capital estatutário de 76 milhões de euros, do qual só foram realizados 18,2 milhões, ou seja, menos de 25 por cento, e, portanto, não temos capacidade para construir um equipamento desta natureza", afiançou. Para Artur Vaz, a nova unidade hospitalar poderia ser uma realidade em "três anos e meio" e, se funcionasse em articulação com o HAS, os custos de exploração ficariam na ordem dos 35/45 milhões de euros, a somar aos 160 milhões de euros do hospital sede. Cascais condiciona Sintra Com a criação do Hospital de Sintra, também teria de ser resolvida a questão da área de influência da unidade de Cascais, situada em Alcabideche, responsável pelo atendimento na área materno-infantil de oito freguesias sintrenses. "Não faria sentido ter um hospital em Sintra e as pessoas terem de ir para Cascais", salientou o administrador hospitalar. "Como já não faz sentido: se uma mulher está grávida, vai parir a Cascais, mas, se partir uma perna enquanto está grávida, vai para o Fernando da Fonseca". Regras que integram o contrato de parceria público-privada estabelecido como grupo que assegura a gestão do Hospital de Cascais. A unidade hospitalar situada em Alcabideche acabou também por ser referida por Rui Raposo, que presidiu ao conselho de administração do Hospital Amadora-Sintra durante a gestão privada do Grupo Mello, que terminou em final de 2008. "Sintra ficou marcado pela abertura do actual Hospital de Cascais", acentuou este gestor da área da saúde, para quem a localização do Hospital de Cascais em Alcabideche "modificou a organização geoestratégica das unidades hospitalares a localizar". Ou seja, concretizou Rui Raposo, "com o actual Hospital de Cascais, com o Amadora-Sintra, com Loures em construção, aquilo que faz sentido é haver uma extensão em Sintra, com a vertente de ambulatório, em perfeita articulação com o HAS". Este responsável sublinhou que, em todo o país, existe cerca de uma centena de hospitais. "Cem hospitais para uma população de dez milhões de habitantes, estamos a falar de um hospital para 100mil habitantes", acentuou Rui Raposo, considerando que "há hospitais a mais em Portugal". Segundo este responsável, o problema em Portugal não reside no número de unidades, mas na qualidade da gestão."O exemplo do HAS,gerido pelo Artur Vaz, devia ser multiplicado em Portugal", salientou Rui Raposo, sendo que essa melhor gestão permitiria libertar profissionais de saúde "para se concentrarem onde, efectivamente, são necessários". "Com os actuais níveis de produtividade que existem em alguns hospitais, os actuais níveis de eficiência (entenda-se ineficiência), é óbvio que não há recursos que cheguem", salientou Rui Raposo.

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