quarta-feira, 16 de junho de 2010

Casal de S. Brás - Paleta de cores e aromas em hortas de cariz popular

Ver edição completa Como modo de subsistência ou terapia ocupacional, há cada vez mais hortas na cidade Para muitos será um modo de subsistência em tempos de crise, para outros é importante como forma de ocupar o tempo livre. Ter uma horta no Casal de São Brás é tudo isso, mas acima de tudo quem trabalha aquelas terras fá-lo com paixão. A prova disso é o jardim que ali está a nascer. Os terrenos junto à Escola José Cardoso Pires, pertencentes à Câmara Municipal de Lisboa, estão a pouco e pouco a ser ocupados por plantas ornamentais. O baldio deu lugar a um terreno cultivado e ajardinado, com uma mistura de aromas e cores. Ali convivem roseiras, flores, árvores de fruto, legumes e ervas de cheiro. “Já lhe chamam o Jardim da Estrela”, refere Emistides Sousa, moradora em São Brás e uma das que se dedica àquela horta popular, referindo-se essencialmente às plantas ornamentais que compõem o espaço. Após a doença que a atirou para um reforma por invalidez, Emistides viu-se sozinha em casa durante o dia. Resolveu sair e questionar o seu vizinho, António Teixeira, que já tinha um pequeno espaço cultivado. Depois de uma vida dedicada ao ensino, mas impedida de exercer a profissão, Emistides não cruzou os braços e pôs mãos à obra. Ao lado do seu vizinho começou, também ela, por criar uma pequena horta, num espaço “que era só ervas daninhas e ratazanas”, adianta. “Isto foi uma espécie de terapia, ajudou-me muito na recuperação por causa dos movimentos”, acrescenta. Há sete anos que se dedica a uma pequena horta, seguindo apenas os princípios da agricultura biológica. Os dias são passados no campo, onde até as refeições “sabem melhor”. “Venho logo de manhã cedo e já cheguei a sair daqui por volta das 22 horas,quando os dias são grandes”. O marido, Alípio Carvalho, que ainda está no activo, dá aulas numa escola em Alfornelos, muitas vezes junta-se a ela para as refeições ou para partilhar trabalho no final do dia. Quem a quer ver feliz é ali mesmo, na sua horta. As roseiras e as árvores de fruto compõem a paisagem, que aos poucos está a ganhar cada vez mais adeptos. António Teixeira foi o primeiro a tratar a terra. Por causa da sua infância passada no campo, embora a vida profissional tenha sido ligada às artes gráficas, o gosto pelo cultivo da terra acabou por ser mais forte. Primeiro começou por plantar apenas ervas de cheiro, como a salsa, hortelã e coentros, depois ocupou um terreno com cerca de 16 metros quadrados e neste momento cultiva cerca de 140 metros quadrados. No seu espaço, as rosas são o que mais salta à vista, mas também tem feijão, tomate, cebolas, entre outros legumes. Mas neste jardim também há árvores de fruto como nespereiras, figueiras, cerejeiras, pereiras, macieiras, pitangueiras, entre muitas outras. Alida de Sousa nunca pensou em pegar numa enxada, apesar dos avós serem pessoas ligadas ao campo. Nunca imaginou que um dia lhes iria seguir os passos. Costumava passear no terreno baldio e sentar-se no topo a ler um livro, mas quando se apercebeu que os seus vizinhos tratavam a terra resolveu juntar-se a eles. Como cuida de crianças, diz que “a horta é uma boa terapia”. Mas para além dos benefícios proporcionados pelo tratamento da terra como ocupação dos tempos livres, há também mais-valias financeiras. “Poupa-se muito em compras de supermercado”, afirma Teresa Gomes, que se junta ao marido no final do dia para tratar do seu terreno. “É uma ajuda económica e um passatempo, mas acima de tudo sabemos o que estamos a comer”, acrescenta. Nas férias, funcionam como uma comunidade, as terras nunca ficam por regar. Há sempre alguém que as cuida. Mas esta horta tem espinhos. Os roubos, não os pontuais que levam apenas umas flores ou umas ervas de cheiro, mas daqueles que vêm para estragar. “É mais o que danificam do que o que levam e isso é que não é correcto”, afirma Alípio Carvalho. Para evitar os roubos e apropriações indevidas, os pequenos agricultores montaram redes que protegem o cultivo de mãos alheias. Do lado de fora ficam as roseiras. António Teixeira adianta que “sempre que me pedem eu dou, por isso prefiro que peçam porque assim não estragam”. Para isso, este morador já colocou do lado de fora da vedação uma pequena plantação com ervas de cheiro, onde qualquer pessoa pode apanhar e levar consigo.

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