Bairro de Santa Filomena vai mesmo abaixo
Um ferido ligeiro foi o resultado da contestação de um grupo de moradores do bairro de Santa Filomena que apoiados pela Plataforma do Direito à Habitação se manifestaram na quinta-feira, 21 de Junho, em frente à Câmara Municipal da Amadora (CMA). Um confronto que terá ocorrido quando os manifestantes tentavam entrar no edifício municipal no decorrer do protesto. O presidente da autarquia, Joaquim Raposo, garante que “o bairro é para demolir” e “só terá casa quem tem direito a ela”. A história repete-se e mais de seis anos depois do fim do bairro da Azinhaga dos Besouros, em Alfornelos, que levantou tanta polémica devido às demolições, agora é a vez dos moradores do bairro de Santa Filomena que estão fora do Programa Especial de Realojamento (PER) exigirem uma alternativa habitacional aquando do fim do bairro. Motivo que levou meia centena de pessoas a protestar na quinta-feira, dia 21 de Junho, junto às instalações da autarquia contra as demolições, que estão previstas ocorrer até ao final do mês. Um dos moradores do bairro de Santa Filomena, Daniel Lopes Barros, contou à Lusa que os manifestantes entraram na Câmara e conseguiram entregar a carta que tinham para o presidente do município, Joaquim Raposo. O mesmo morador indicou que esta pretendia ser uma “manifestação pacífica para tentar negociar com a vereadora”, que na quarta-feira recebeu uma delegação do bairro e que terá referido na reunião que quem não tiver direito ao realojamento “deve regressar à terra de onde veio e que a Câmara paga”. Magda Alves, da Plataforma pelo Direito à Habitação, afirmou também à Lusa que “centenas de pessoas, mais de metade são desempregados, receberam cartas de despejo com datas de 15 de Junho e 05 de Julho”. Junto à Câmara, os manifestantes empunhavam cartazes onde se podia ler: “quem não tem casa não tem nada” e “não queremos esmola da câmara, mas sim solução”. Num comunicado, a Plataforma do Direito à Habitação e os moradores do bairro de Santa Filomena indicam que os habitantes se recusam a ser tratados como “lixo” pela autarquia. “Várias dezenas de nós, moradores e moradoras do bairro de Santa Filomena – Amadora temos estado a receber notificações camarárias informando-nos que as casas onde habitamos vão ser demolidas brevemente”, lê-se no texto. Caso avancem as demolições, os moradores garantem que vão ser forçados a “viver na rua”. “A Câmara Municipal da Amadora deu-nos a ‘escolher’ um de dois caminhos: a repatriação para Cabo Verde, ou três meses de renda. Depois, cada um que se amanhe. Somos pobres, muitos de nós desempregados ou subempregados (quem ainda consegue arranjar trabalho)”, acrescenta o comunicado. O presidente da autarquia, em declarações ao JR, lamentou que o protesto pelo direito a habitação seja feito sempre pelos mesmos. “Os manifestantes são os mesmos que há vários anos ocuparam os telhados da Azinhaga dos Besouros, só mudaram de telhado”, ironizou Joaquim Raposo, aludindo ao envolvimento da Plataforma pelo Direito à Habitação. O autarca esclareceu que "no século XXI não é admissível a existência de bairros como os que existem na Amadora, como o de Santa Filomena, Quinta da Lage, 6 deMaio e Estrada Militar da Damaia” e, por isso, “todos eles têm os dias contados”. Quanto à atribuição de casas com rendas sociais apoiadas, “só vai ser realojado quem cumprir os requisitos exigidos, caso contrário, não seria justo, porque todos nós pagamos para que as pessoas carenciadas possam ter direito a uma renda apoiada”. “Esta questão das casas custa a todos e todos temos que pagar”, reafirma, acrescentando que “as casas vão abaixo e quem tem direito a casa é realojado e quem não tem direito não é”. Em comunicado, autarquia fez ainda saber que “desde há largos meses que se vem procurando, num trabalho conjunto entre as famílias e as entidades públicas, encontrar soluções de acordo com as características e necessidades de cada agregado familiar”.
Milene Matos Silva, com Lusa
Milene Matos Silva, com Lusa
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