Escola Profissional divulga cursos no exterior do Museu de Arte Moderna
É um trabalho de muito mérito, mas ainda pouco conhecido, aquele que se faz na Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra. Muitos visitantes de palácios e monumentos olham com aprovação para os edifícios históricos e seus recheios devidamente cuidados, mas raros são os que sabem como se faz e quem executa esse trabalho de resgate sobre o tempo que passa. Numa iniciativa inédita, entre terça-feira e domingo passado, o simples transeunte, indígena ou forasteiro, pôde ver de perto e ao vivo, no pátio exterior de entrada do Museu de Arte Moderna, alunos a trabalhar nas seis áreas que constituem o Curso de Conservação e Restauro ministrado por aquela escola: azulejaria, cantarias, estuques, madeiras, metais e pintura mural. Naturalmente, a ocasião foi aproveitada, também, para cativar o interesse de eventuais candidatos à frequência daquele curso ou dos outros dois (fotografia e ‘design’) disponibilizados naquele estabelecimento de ensino criado e apoiado pela Câmara de Sintra e que conta, de momento, com cerca de 140 alunos e perto de meia centena de professores. “Ainda estávamos amontar esta intervenção e já havia jovens a inscreverem-se na escola”, testemunhou ao JR Ana Bettencourt, directora da EPRPS, satisfeita com a iniciativa “A Escola Sai à Rua” e planeando mesmo a sua repetição regular no futuro, estendendo-se para outros locais públicos de Sintra. Com capacidade para 25 alunos, o Curso de Conservação e Restauro tem tido sempre bastante procura, o que até permite fazer alguma selecção. “Todos os que se inscrevem fazem provas para definirmos se têm mesmo aptidões e vontade de estar nesta área, que é uma área difícil: uma formação de três anos, com 3200 horas, grande parte delas de componente prática, exige muito esforço”, sublinhou aquela responsável. Em contrapartida, a recompensa pode estar bem perto. “É um curso que continua a ter uma grande empregabilidade porque a construção de novos edifícios está parada e o que está a progredir é a conservação/reabilitação e o restauro, mesmo por intermédio de grandes empresas de construção civil que também se viraram mais para esta área”. Muitos alunos da EPRPS (ensino técnico-profissional, permitindo fazer do 10.º ao 12.º ano de escolaridade) acabam por ingressar no Ensino Superior, seja na Universidade Nova de Lisboa – um ensino mais teórico, com muita aprendizagem de química – ou na Escola Superior de Tecnologia de Tomar, numa vertente mais prática. “Essa opção em prosseguirem os estudos satisfaz-nos muito porque os nossos alunos ficam ainda com mais habilitações para intervir futuramente. Mas mesmo os que terminam estudos no 12.º ano acabam por encontrar emprego aqui no concelho porque há bastantes empresas a trabalhar em conservação e restauro no património de Sintra”. Incentivos a que se junta a perspectiva de que mais trabalho possa surgir nesta área por via da nova legislação sobre o arrendamento urbano… “Na verdade, não temos mãos a medir!”, conclui Ana Bettencourt. A directora da escola não esconde, porém, que este ano lectivo registou um número de desistências entre os alunos que não se verificava anteriormente, mesmo que “sem grande significado” em termos quantitativos. “Muitos dos casos são motivados por razões económicas, às quais nós tentamos acudir, mas nem sempre é possível…”, reconhece, atribuindo a situação aos “constrangimentos económicos e financeiros que o país enfrenta”. Na realidade, os cursos são gratuitos, mas há sempre encargos a considerar. Tiago Gonçalves, de 20 anos, sabe disso, mas apenas pelo que vê acontecer a outros. “Reduziram o desconto no passe para estudantes com menos de 18 anos e isso tornou a despesa um bocado pesada demais”, confirmou o aprendiz, enquanto executava trabalhos de cinzelagem em latão com a
supervisão de um dos vários mestres presentes na iniciativa. O início da sua relação com a EPRPS não terá sido muito diferente da de outros alunos. “Estava a fazer o 11.º ano na Escola Secundária de Seomara da Costa Primo, na Amadora, um pouco farto do meu curso (Artes Visuais) porque não via grandes propostas de futuro e ainda tinha de melhorar muito as notas…”, contou, justificando a interrupção dos estudos. Até que um dia… “A minha mãe descobriu esta escola e eu fiquei muito entusiasmado com o que vi no ‘site’. Todas as disciplinas me cativaram logo, mas sobretudo metais e estuques, que ainda hoje são as minhas favoritas”, acrescentou o jovem. Terminado o 2.º ano do curso, ambiciona seguir o Ensino Superior daqui a um ano, quando completar o curso. “Para poder passar de assistente para conservador”, indica, embora já “mentalizado” para a provável necessidade de ter de deixar esse passo para mais tarde, uma vez que “Tomar ainda fica longe e implica outro tipo de despesas”. Por ora, cumprirá mais um ano para enriquecer a sua aprendizagem na EPRPS. O que antevê com entusiasmo: “É uma escola com excelentes condições, e agora vou ter ainda mais aulas práticas, mais trabalhos de restauro para fazer em vários locais interessantes”.
Jorge A. Ferreira
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