sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

SAÚDE EM ALMADA Cada vez mais utentes sem médico

Ver edição completa Comissão exige reabertura das urgências nocturnas A ministra da Saúde reafirmou, na segunda-feira, que a reestruturação dos horários dos centros de saúde é para continuar, uma vez que esta medida permite transformar “horas vazias de doentes” em “horas de consultas médicas”. Diz Ana Jorge que “quando se organiza um centro de saúde, reduzindo o tempo nocturno, que não tinha habitualmente procura de doentes, essas horas são transformadas em horas de consulta e isso vai aumentar a capacidade de resposta aos utentes”. Mas este é um argumento que não convence Jorge Fernandes, da Comissão de Utentes de Saúde de Almada (CUSA), que defende que os centros de saúde “têm de funcionar em horário nocturno” para “aliviar a carga de pessoas que acorrem às urgências do Hospital Garcia de Orta” (HGO) que “já não está dimensionado” para responder à população da sua área de influência: Almada, Seixal e Sesimbra, ou seja, quase meio milhão de habitantes. Ora o que se verifica neste momento é que os dez centros de saúde existentes no concelho de Almada – onze freguesias – funcionam entre as 8 horas e as 20 horas. “É claramente insuficiente”, comenta Jorge Fernandes que continua ainda a contestar a decisão do Ministério da Saúde em “acabar com o Serviço de Atendimento Permanente de Almada (SAP). Actualmente só funciona como SAP aos fins-de-semana e feriados, e mesmo assim só até às 22 horas”. Ou seja, “durante a semana a única alternativa dos utentes, se tiverem um problema depois das 20 horas, é irem à urgência do HGO”. A isto acresce o problema da “falta de centros de saúde e falta de médicos”, diz Jorge Fernandes. Um dos casos que aponta é o caso das freguesias do Laranjeiro e Feijó, ambas de grande densidade populacional. Apesar de dispor de uma unidade relativamente recente, esta “já não consegue dar resposta suficiente”, e apesar de existir ainda um centro a funcionar no Laranjeiro, este está instalado no prédio de habitação e “está muito limitado”. De facto, os presidentes das juntas de freguesia do Feijó e Laranjeiro reclamam por um novo centro de saúde na zona. Mara Figueiredo, do Laranjeiro, afirma que as instalações que existem na freguesia, na Rua Luís de Camões, “são inadequadas” e José Pereira lamenta que a ministra Ana Jorge considere que “existem outras prioridades”. É que terreno já existe, disponibilizado pela autarquia, mas da construção nada se sabe. Problemática é também a situação na Charneca de Caparica, a que mais cresceu no concelho nos últimos anos. O responsável da CUSA não só afirma que o centro de saúde da localidade “já não tem condições” como diz que “10 mil dos residentes não têm médico de família”. Aliás, pelas suas contas, no concelho "são 60 mil” os utentes sem médico de família. Um número que o responsável pelos centros de saúde do concelho de Almada considera exagerado. Afirma Luís Marquês que no concelho há “150 mil utentes com médico de família”, isto numa população de 170 mil habitantes, segundo dados o INE.Relacionando os números citados por Jorge Fernandes e os de Luís Marquês pressupõe-se que Almada terá 210 mil habitantes o que “não é de acreditar”, comenta o director dos centros de saúde. Contudo Luís Marquês admite a falta de médicos. “De Março a Dezembro de 2010 o concelho perdeu 12 médicos”, refere. Destes quatro voltaram após se terem aposentado, numa solução prevista pelo Decreto-Lei 89/2010 para resolver a falta de clínicos. Mesmo assim, passaram a existir menos oito médicos de serviço aos centros de saúde. Para já a situação tem sido remediada com a contratação de clínicos através de ‘outsourcing’, o que para Luís Marquês não é solução. E Jorge Fernandes concorda. “É muito mais dispendioso para o Estado”. Contudo a falta de médicos ainda vai levar tempo a ser resolvida. Segundo Luís Marquês vai ser necessário esperar cerca de cinco anos até que novos médicos cheguem ao mercado em número suficiente. Aliás, esta também é a previsão da ministra Ana Jorge, numa semana em que se soube que, a nível nacional, o serviço nacional de saúde vai perder mais 70 médicos. No total, no país conta-se que milhão e meio de pessoas não têm médico de família.

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