terça-feira, 15 de junho de 2010

Perfume de Sintra na Avenida

Ver edição completa Marcha de São João das Lampas encanta em Lisboa De muletas e vestido como a plebe no meio de cavalheiros e damas da mais fina fidalguia e realeza, o jovem Ricardo Jorge, de 15 anos, era o espelho do desalento por não poder desfilar na Avenida da Liberdade. Na verdade, coube-lhe o papel de Nani no seio da selecção de 48 marchantes que encantou no desfile das Marchas de Lisboa, na noite de sábado, representando a freguesia de São João das Lampas e todo o concelho através do tema “Sintra, Património Mundial”. “Teve mesmo muito azar, lesionou-se em vésperas do grande momento…”, lamentava-se o pai, José Domingos Jorge, de 45 anos, pouco antes do início da passagem, extra-concurso, por aquele afamado palco de emoções e tradições bairristas. Mas, tal como no Mundial de futebol, o espectáculo não pode parar. De pronto, um companheiro foi avisado para tomar o lugar do jovem que, com apenas dois anos, foi mascote da marcha de Fontanelas aquando da primeira (e quase única…) edição das marchas realizadas na Volta do Duche – antes de um longo interregno deste tipo de eventos. Ainda assim, para as Marchas de Lisboa 2010, o clã Jorge estava em peso e, mesmo sem Ricardo por lesão e para além do pai alinharam, ainda, a mãe, Sandra Jorge, e o Diogo Jorge, de 13 anos, que, por sinal, ainda estava no ventre da progenitora quando os marchantes ensaiados em Fontanelas por Palmira Pinto, recrutada a Carnide (ver caixa), venceram a 1.ª edição das marchas na vila de Sintra… Confusos? Não faz mal. O mais importante é perceber que as marchas são não só um património de tradições, mas também, e especialmente, de afectos que perduram e se cruzam no tempo. “Isto não se faz sem sacrifícios, mas o convívio e o resultado final compensam tudo”, sublinha José Domingos Jorge, do alto do seu fato de tecido vinil com cores de azulejo antigos, explicando a razão pela qual é um dos poucos homens que se dedicam a esta causa desde o dealbar das marchas em Sintra “há 18 anos”, quase sempre na companhia da mulher e filhos. “A malta mais nova é mais difícil de conquistar porque não tem este gosto arreigado como os mais velhos; por outro lado, isto é uma prisão duas vezes por semana, à noite, não se pode ir para o bar ou à discoteca”. De dificuldades sabe bem Madalena Simões, que preside à comissão organizadora. “Somos quatro ou cinco pessoas a tratar da burocracia toda, a procurar apoios, a coordenar tudo”, resume. “Isto é um bocadinho cansativo e na base da carolice porque não temos muitos apoios – temos a ajuda da Câmara, da Junta, da Sociedade Recreativa e Familiar e do Centro Social de São João das Lampas, mais alguns particulares, mas nada se faria sem as receitas dos almoços, das rifas, da feitura e venda de filhós…”, especifica. Além de que, “é difícil gerir” quase 50 pessoas. “Se uma pessoa falta um dia, ensaia-se de uma maneira, quando chega no outro dia já está tudo trocado”. Ainda assim, certo é que os marchantes de São João das Lampas andam a treinar, desde Março, não uma, mas duas marchas! Além da que foi à Avenida da Liberdade, há ainda uma outra, na linha das habituais marchas feitas pelo grupo. “Chama-se ‘Tradições Saloias’ e tem a ver com a quinta-feira da espiga, as vindimas, o S. Martinho, a ida a Janas (S. Mamede), uma aldeia onde se costumava ir no fim das colheitas, agradecer ou benzer o gado…”. Se a marcha “Sintra, Património Mundial” terminou a sua carreira em beleza, no coração de Lisboa – depois de ter sido exibida a nível local em 2009 – já a “Tradições Saloias” começa agora a mostrar-se ao público, dias 18, 19 (neste data também no Mucifal) e 23 em São João das Lampas, dia 20 em Odrinhas, 25 em São Pedro de Sintra, 28 em Fontanelas, e dia 29 na Assafora.

1 comentário:

Anónimo disse...

de onde são as pessoas que vão nas marchas populare?


Precisava de saber