Portugal está prestes a começar a sua participação no Mundial da África do Sul e, a muitos quilómetros de distância, na Outurela (Carnaxide) os ensinamentos do técnico principal da Selecção Nacional continuam a inspirar centenas de miúdos a irem mais longe dentro e fora de campo. Neste momento, são 350 os rapazes e raparigas, entre os cinco e os 14 anos, que treinam afincadamente no Parque Desportivo com o nome do seleccionador, enquadrados pela Football By Carlos Queiroz,escola que desde o início das suas actividades, em Setembro de 2008, já levou “um futebol de qualidade” a cerca de 3500 miúdos. Um balanço altamente positivo, que tem surpreendido os próprios parceiros do Manchester United, garante Tiago Lopes, um dos três sócios da estrutura “inconformista” que quer mudar o panorama formativo do futebol em Portugal. Para isso, a academia pretende continuar a crescer. A partir de Setembro será criado um novo escalão, o dos juvenis, para prolongar os ensinamentos nos alunos por mais alguns anos; as acções de férias escolares irão estender-se a novos locais do país,incluindo Alentejo; o número de alunos de escolas municipais a visitar a academia deverá aumentar para o dobro; será posto em prática o já delineado programa de futebol para empresas; e, finalmente, a internacionalização da Football By vai ser uma realidade, para já junto dos países com ligações afectivas a Portugal, como Cabo Verde, Angola, Moçambique... Dribles sobre a crise e remates estratégicos certeiros que não esquecem o essencial: olhar o futebol como uma ferramenta útil dentro e fora das quatro linhas. Ou, como disse Carlos Queiroz aquando da apresentação do projecto há dois anos, usar o desporto-rei como meio para aprender a “jogar bem a própria vida”. A bola joga-se com os pés e com a cabeça. Além de esforço físico, é trabalho mental que depois se reflecte nos relvados e nas ruas. “Enquanto tivermos a bola na mão temos uma grande responsabilidade, pois é preciso ensinar que o futebol tem valores: atitude, comportamento, comunicação, disciplina, entusiasmo, ‘fair play’”, enumera Tiago Lopes, lembrando a ligação destes valores às componentes solidária e educativa. Na verdade, a Football By, no âmbito do protocolo com a Câmara de Oeiras, acolhe cerca de 50 crianças em regime de bolseiros. Miúdos provenientes de meios carenciados, mas que, muitas das vezes, surpreendem pela determinação com que agarram a oportunidade, como conta Hugo Pereira, um dos técnicos da academia: “São miúdos que nunca se atrasam, que na véspera vão para a cama a horas por sua própria iniciativa e já com o saco feito porque no dia seguinte há treino”. Tiago Lopes sublinha que a essa predisposição para o rigor, para o esforço, para a disciplina, ajuda muito o facto de todos perceberem “que são bem tratados, que têm ao seu dispor equipamentos e materiais de grande qualidade, técnicos excelentes e, portanto, percebem que devem retribuir com o seu empenho técnico e comportamental”. A diferença é que alguns dos miúdos, às vezes, queixam-se de dores na barriga, revelando casos de carências nutricionais que os responsáveis logo tratam de suprir... Tudo é feito em nome dos sonhos de cada miúdo, mas sem alimentar ilusões.Num país que respira futebol há o risco de o excesso de expectativas levar ao acumular de frustrações. Na Football By os cuidados a esse nível estão assegurados, garante Tiago Lopes, lembrando que “temos um rácio de um técnico por oito alunos, o que permite um acompanhamento próximo e atento”. E, ainda a este respeito, destaca: “Temos um público-alvo entre os 5 e os 14 anos e não faz sentido pensarmos que estamos aqui a formar os próximos Cristianos, Figos, nem queremos isso por si... Queremos que eles tenham acesso à ferramenta futebol para que se não tiverem que ser bons jogadores possam ser bons estudantes, bons pais, bons engenheiros, médicos...” E, independentemente de maior ou menor talento, todos têm competição na academia Carlos Queiroz. Uns participam numa liga interna que junta mais de 30 equipas (600 crianças), incluindo algumas vindas de outros pontos do país, enquanto um conjunto de 60 miúdos, repartidos em escolas, infantis e iniciados, participa em competições oficiais da Associação de Futebol de Lisboa. A diferença é que estes últimos têm maior carga horária e exercícios de maior complexidade. “Não tivemos um único aluno destas equipas mais competitivas que tenha desistido ao longo do ano, o que revela uma boa gestão das expectativas dos jovens, pois temos a preocupação de que todos tenham oportunidade de jogar”. Para terminar, voltamos ao princípio... E se Portugal sofrer um grave revés no Mundial da África do Sul? Uma questão delicada para quem ostenta o nome do seleccionador como bandeira... Ou talvez não. “Para já, não acredito que as coisas corram mal na África do Sul. Depois, os projectos são baseados numa filosofia, num plano estratégico e no trabalho que desenvolve esse plano. Não faz sentido interromper-se um ciclo, deixar de acreditar no futuro só porque surgiu uma barreira no caminho”. Concluindo, “o professor é a pessoa certa no lugar que ocupa”. Lá como cá. “Para ele é uma paixão estar aqui com os miúdos – e ele tem vindo cá várias vezes – e para nós é um grande orgulho tê-lo aqui connosco como presidente, imagem de marca e filosofia de trabalho”.
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