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Campanha de angariação de fundos a favor do bairro
“Mais valia ter ficado na Pedreira, ao menos lá tinha companhia!”, atira Maria Luísa Veduias, de 86 anos, ao aperceber- se de que as condições (ou falta delas) do Bairro dos Navegadores, freguesia de Porto Salvo, é tema de conversa. “Este bairro não tem coisa nenhuma para as pessoas, por isso, fico em casa o dia todo”, queixa-se a idosa, sugerindo que “no mínimo, podiam mandar uma assistente social uma vez por semana para ver o que os velhotes precisam…”. Assim como está “é um inferno”, conclui, antes de seguir caminho para o seu lar. Quebrar este ciclo de isolamento é um dos objectivos que o Projecto Pobreza Zero pretende alcançar, nomeadamente através de apoio à criação de uma Universidade da Terceira Idade adaptada ao perfil do bairro, que é, reconhecidamente, um dos aglomerados do concelho onde há menos qualidade de vida para os seus moradores, que são perto de quatro mil, muitos dos quais oriundos do antigo bairro da Pedreira dos Húngaros. Ciente da precariedade que ali se vive em múltiplas áreas, apesar dos investimentos dos últimos anos – como o centro de convívio e o campo polidesportivo – os responsáveis do projecto Pobreza Zero, criado, em 2005, pela Oikos (ONG para o Desenvolvimento sedeada em Linda- a-Pastora), desafiaram, o ano passado, a agência In Events a juntar-se ao programa. O resultado foi o Pobreza Zero – Conceito Urbano, programa com um mês de duração – iniciou-se a 17 de Setembro e termina este domingo, Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza – durante o qual é realizado um conjunto de eventos de responsabilidade social para angariar fundos com fins solidários e de transformação social. O cartaz de iniciativas tem-se repartido entre festas em restaurante e discotecas e acções em bairros carenciados da região de Lisboa. No passado sábado, o projecto esteve no Bairro dos Navegadores e levou consigo alguns jovens actores (António Camelier e Tiago Teotónio Pereira), além do ex-jogador de futebol de praia Alan, em representação da academia que fundou como seu colega de goleadas Madjer. Para Joaquim Tavares, presidente da Associação de Moradores local, uma das entidades a abranger pelo Conceito Urbano, toda a ajuda é bem-vinda num bairro onde o que não falta são carências. “Faltam casas!”, começa por destacar o dirigente, dando o exemplo “agudo” de um T3 que acolhe três agregados familiares, num total de 16 pessoas. Os transportes são outro problema. “Um autocarro vem até ao bairro, mas só até às 20h30, outra carreira fica à entrada, a cerca de um quilómetro, obrigando as pessoas a caminhar ao sol e à chuva; agora vêm mais vezes porque há escola, mas no Verão chega-se a esperar mais do que uma hora”. A falta de uma sede condigna é outra desvantagem. A que existe é uma sala a que Joaquim Tavares chama, com ironia, multiusos: atravessa-se em meia dúzia de passos e serve de cozinha nos momentos festivos, armazém, escritório... Ao fundo, em pouco mais do que um cubículo, há um computador que não tem Internet porque é antigo e não há dinheiro para o actualizar. “Não recebemos nenhum subsídio”, explica o presidente, embora frisando que a câmara “sempre nos apoiou, mas não em subsídios”. Ainda assim, “com os mil e poucos euros que conseguimos juntar este ano levámos idosos a Sines, jovens às piscinas de Montemor, crianças ao Portugal dos Pequenitos (Coimbra)... E em Novembro queremos levar um grupo de mães solteiras ao Alqueva para passearem e adquirirem algumas noções de planeamento familiar”, diz Joaquim Tavares, adiantando, ainda, a intenção de criar um grupo de batuques e outro de capoeira. “Com um pequeno apoio, ou com a gestão do Centro de Convívio do bairro, sozinhos ou em parceria, muito mais faríamos”, garante, aludindo a uma questão polémica, ainda por resolver (ver caixa). Para já, no entanto, há muita animação no bairro: este fim-de-semana, decorre ali a Festa de Nossa Senhora da Paz, com a exibição de grupos de dança, batuques, e alguns cantores, além de muita cachupa, claro.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
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