quinta-feira, 2 de junho de 2011

Combus limitado a quatro freguesias

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Câmara invoca reduzida procura e custos elevados Linda-a-Pastora fica mesmo ao lado de Queijas, mas para Maria Assunção Sequeira, de 88 anos, a distância não se mede em quilómetros, antes em dores que a bengala procura atenuar, e em euros, que é coisa que lhe faz muita falta. Não é por acaso que utiliza o serviço de minibus Combus de forma gratuita. Mas, lá está, para poder usufruir desse transporte sem pagar tem que se deslocar a Queijas para obter a respectiva senha. Tal como é ali que faz as compras...“Em Linda-a-Pastora não há nada...”, justifica. Na verdade, esta munícipe é uma utilizadora assídua do Combus, que usa, ainda, para ir ao Centro de Saúde de Carnaxide. “Ando nele quase todos os dias e há outras pessoas que fazem o mesmo”, assegura, à saída do minibus de cor verde clara, numa paragem que é também local de recolha e largada de passageiros da Vimeca, a empresa privada de transportes com quem a Câmara de Oeiras tem um protocolo que assegura este serviço de cariz social nas dez freguesias do concelho desde 2009 (mas com início gradual desde 2007). No entanto, esta terá sido uma das últimas viagens que aquela munícipe fez a bordo do Combus. Na verdade, na última reunião de Câmara, foi aprovada, por maioria (voto contra da CDU), uma proposta no sentido de eliminar o Combus nas freguesias de Barcarena, Caxias, Oeiras, Paço de Arcos, Porto Salvo e Queijas, bem como a alteração dos percursos nas restantes freguesias (Carnaxide, Algés, Linda- a-Velha e Cruz Quebrada). Uma notícia que Maria Assunção Sequeira desconhecia e que lhe arrancou, de imediato, uma reacção de lamento: “Vai fazer-me muita falta”, disse, salientando não ter alternativa, já que “os preços cobrados pela Vimeca são caros para a minha bolsa, pago tanto de Linda-a-Pastora para Queijas como se viesse de Linda-a-Velha”. O presidente Isaltino Morais, na referida reunião de Câmara, anteviu que “certamente irão aparecer reclamações” e mostrou-se disposto a encontrar alternativas para os casos mais problemáticos e comprovados de carência e urgência social, desde um sistema de táxis pagos à utilização de uma carrinha de nove lugares e com espaço para cadeira de rodas, entre outras soluções. Mas reiterou que a decisão é para seguir em frente porque os números da procura não justificam manter uma despesa de 550 mil euros por ano, que é quanto a Câmara paga no âmbito do protocolo com a Vimeca, cuja vigência expirou a 31 de Maio. “Tal como está o Combus, o próprio cidadão poderá comentar: então a Câmara tem dinheiro para sustentar autocarros que circulam vazios?!”, frisou Isaltino Morais, para concluir não ter dúvidas de que, actualmente, o grande beneficiário é a própria Vimeca. Nuno Patrão, responsável da Câmara de Oeiras na área dos transportes, detalhou que se pretende “centrar a oferta do Combus em quatro freguesias que representam mais de 50% dos passageiros transportados (Algés, Carnaxide, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada)”. Localidades onde “a procura tem sido estável, à excepção da freguesia de Algés, onde tem crescido bastante”. Baseando-se em dados 2.º semestre de 2009 e dos dois semestres de 2010, aquele técnico salientou que “o custo de transportar um passageiro em Barcarena custa à Câmara mais de 7 euros, enquanto que em Algés, por exemplo, custa 1,63 euros”. Com a pretendida centralização de meios, deverá também aumentar a frequência de passagem dos minibus, da actual hora a hora para 35 minutos de intervalo. Por outro lado, está previsto que o serviço deixe de se efectuar aos sábados, o que “permitirá redução de cerca de8%nos custos”. Uma “espinha de horário, que permita aos utentes ter uma noção mais fiável e real de quando terão disponível o próximo autocarro”, é outro objectivo. Mas nas freguesias em que se manterá o Combus, as inquietações também subsistem. É que os trajectos vão ser alterados e ainda não se sabe ao certo por onde vai passar o Combus reformulado, sabendo- se, porém, que as quatro localidades terão um circuito comum, servido pelos três autocarros, de um total de sete até há pouco em funcionamento, que se vão manter no activo. Uma motorista da Vimeca, desde há um ano a guiar estes minibus (mas há dez ao serviço da empresa), diz que o novo percurso irá da Cruz Quebrada a Barronhos/Nova Carnaxide. Mas adianta que deixará de passar em muitos dos locais a que os utentes estavam habituados. “Espero que continuem a passar junto às escolas!...”, comenta, a propósito, uma das passageiras, quando o autocarro passa na Escola Básica e Secundária Amélia Rey Colaço (Alto de Santa Catarina, Linda-a-Velha) onde entram uma aluna e a sua mãe. “Com a minha reforma de 400 e poucos euros, dava muito jeito pagar só 50 cêntimos por bilhete”, desabafa outra utente. Embora disposta a procurar solução para os casos mais pertinentes em termos sociais, a Câmara vê agora aquele serviço por outro prisma e considera que os tempos difíceis aconselham a fazer melhor as contas à relação custo-benefício. “Houve aqui, se calhar, algum excesso de voluntarismo”, conclui Isaltino Morais.

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