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Igreja de luto contra porto de contentores
A Trafaria está a unir forças contra a construção de um porto de contentores e de um ramal ferroviário de mercadorias com ligação à plataforma logística do Poceirão. Desde a passada semana que a igreja da localidade exibe uma faixa negra em sinal de protesto contra estas opções previstas no Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT-AML), ao mesmo tempo que está a decorrer um abaixo-assinado a ser entregue à Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo e ao primeiro-ministro. A ideia partiu do padre da paróquia, Sérgio Quelhas, que afirma ser “mil por cento contra” a transferência dos contentores de Lisboa para a Trafaria, numa estratégia de expansão do Porto de Lisboa, e junto à faixa negra fez afixar um pano, também negro, onde se lê: “A margem Sul não é o caixote do lixo de Lisboa. A Trafaria não é cemitério”. E termina com um grito de protesto: “Não nos esmaguem”. Quem passa olha, mas nem todos entendem o futuro que está reservado para a Trafaria. “Ouvi falar de uns contentores, mas não sei o que se passa. Só sei que a Trafaria foi esquecida, e há muitos anos”, comenta um homem sentado num banco no Largo da República. Um outro diz que não tem a certeza se vale a pena protestar. “Quem manda faz o que quer”, lastima. Mas a presidente da Junta de Freguesia da Trafaria tem outra ideia. Francisca Parreira lembra que o poder político local “fez o que tinha a fazer contra” esta opção do PROT-AML durante o período de consulta pública, e que “agora é a vez dos cidadãos fazerem ouvir a sua voz”. E acrescenta: “Estou de acordo com o esforço da paróquia. É um movimento paralelo àquele que os autarcas fizeram”. E ao que parece o padre Sérgio Quelhas não vai desistir de defender a Trafaria como futura zona de desenvolvimento turístico. “Construir aqui um porto de contentores é uma visão portuguesinha não iluminada”. No seu entender, depois desta localidade frente ao Tejo ter recebido os silos, a vinda dos contentores e da linha férrea vai ditar a sua desertificação, e isso as pessoas daqui “não querem”. Pena é que “tenham dificuldade em se organizar e defender a sua própria terra”. Da Trafaria até Madrid numa noite Aliás, o pároco defende que esta luta deve ser extensiva a todas as freguesias e concelhos da Margem Sul, porque “quem olhar para aqui do lado de Lisboa vai ver uma frente de contentores e não terá interesse em atravessar o rio”. E o primeiro passo nesta junção de esforços “deve começar entre as onze freguesias de Almada” que, inclusivamente, já votaram em Assembleia Municipal, através dos seus presidentes, contra os contentores. Pronto para reforçar este protesto está o presidente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica. António Neves só lamenta que quando “há muito tempo” alertou que estava a ser preparado “despejar os contentores de Lisboa na Trafaria, não quiseram acreditar”.Agora o projecto “já está a ser feito e vai ser muito difícil parar”. É que para o autarca, por detrás do porto de contentores e da linha férrea até à plataforma logística do Poceirão está a estratégia “de transformar a Trafaria no porto de Madrid”. E lembra que “a maioria dos contentores que estão em Alverca, são espanhóis”. Ou seja, com o porto de contentores na Trafaria e um ramal ferroviário de mercadorias ligado à rede nacional associado ao TGV entre Poceirão e Badajoz, “no espaço de uma noite um contentor vai da Trafaria a Madrid”, diz António Neves. Uma tese pouco credível para João Joanaz de Melo, presidente do Geota. “Não faz sentido investir tanto dinheiro numa obra dessas numa altura em que faltam dinheiros públicos”, diz o ambientalista. Na sua opinião, a rota dos contentores “faz sentido a partir do porto de Sines”, e acrescenta: “É preciso explicar se é mesmo necessário expandir o porto de Lisboa para a Trafaria, o que vai ter impactes ambientais”. Fim dos bancos de amêijoa E um destes impactes ambientais é directamente apontado pelo padre Sérgio Quelhas. “O porto de contentores vai acabar com os bancos de amêijoa na Trafaria”, afirma. E aponta aquilo que considera ser um contra-senso. “Neste momento temos a Polícia Marítima a perseguir os pescadores de amêijoa para que não destruam estes bancos e ao mesmo tempo quer construir- se aqui uma infra-estrutura que vai poluir toda esta zona”? Por isso, Sério Quelhas não entende o silêncio das organizações ambientalistas sobre este assunto. Ao que o Jornal da Região conseguiu apurar, tanto o Geota como a Quercus alegam que, pela sua condição de voluntariado, “não conseguem chegar a todas as questões”.
sexta-feira, 11 de março de 2011
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1 comentário:
Estou de acordo com a posição da Paróquia, mas..., que raio, então a população não tem os seus legítimos representantes para a representar?
Dar protagonismo a uma igreja e permitir que ela represente o povo é algo situável, talvez apenas na Idade Média e representa a ignorancia e tacanhez de um povo com défice elevado de conhecimento.
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