Exemplar em Terrugem de Cima está em risco
Um dos últimos exemplares das tradicionais casas saloias existentes no interior do concelho, situada na Rua Sete Chaves, Terrugem de Cima, na freguesia de Paço de Arcos, está em risco de descaracterização. Fernando Lopes, um dos responsáveis da Espaço e Memória –Associação Cultural de Oeiras, tem feito tudo o que pode para manter esta “casa torreada, de quatro águas, com telha de meia cana, beiral duplo e saqueado”, correspondente “ao modelo mais antigo e tradicional”, a salvo do reboco de cimento ou da demolição. Depois de vários alertas, voltou a chamar a atenção para o imóvel no âmbito do Orçamento Participativo (OP) em curso. Recentemente, recebeu da Câmara de Oeiras a informação de que a proposta passara à 2.ª fase de votação electrónica. Mas a aparente boa notícia continha uma parte menos positiva: “Relativamente à proposta 'Recuperação de casas de origem saloia de Oeiras', por si submetida, esta foi classificada como 'Viável com ajustamentos' visto que apenas se mostra viável o levantamento e inventariação da arquitectura popular (saloia) do Concelho de Oeiras, considerando-se que fará sentido a mesma ser equacionada no âmbito da revisão do Plano de Salvaguarda do Património Cultural Ambiental e Construído de Oeiras. A recuperação da casa na Rua das Sete Chaves não pode ser considerada viável no âmbito do OP uma vez que o imóvel é propriedade privada”. Apesar de satisfeito pela passagem à fase seguinte – a próxima votação decorrerá entre 1 e 21 de Outubro no ‘site’ http://op2012.cm-oeiras.pt/ – Fernando Lopes apela à Câmara para tentar ir mais além do que a simples inventariação de uma casa cujo valor patrimonial e histórico foi confirmado por vários especialistas. “A autarquia tem feito um esforço para requalificar e preservar casas no centro da vila, pelo que faria todo o sentido investir um pouco, também, nesta vertente das casas saloias, que fazem parte do património identitário do concelho e da região em que este se insere”, frisou ao JR. Na sua opinião, o facto de estar habitada e de ser propriedade particular não é motivo para impedir que o imóvel seja recuperado realçando as suas características arquitectónicas tradicionais. “Penso que nem seria preciso uma grande verba e até se poderia envolver privados no projecto, o qual, de resto, teria também uma preocupação social, tendo em conta as deficientes condições sociais e de habitabilidade que, aparentemente, ali se verificam”. “O essencial é preservar a memória das casas de origem saloia que também fizeram parte da paisagem arquitectónica e humana do concelho de Oeiras”, conclui Fernando Lopes, em jeito de repto a quem de direito.
Jorge A. Ferreira