quinta-feira, 26 de abril de 2012

OEIRAS Menores lembram direitos e apontam soluções para problemas


Assembleia Municipal aprova ‘Declaração de Oeiras’

Em vésperas do ‘Dia da Liberdade’, dezenas de crianças e jovens de numerosas escolas e instituições do concelho ‘ocuparam’ não só a agenda, como também muitos lugares da Assembleia Municipal de Oeiras (AMO). Numa sessão especial, realizada no passado dia 17, concretizaram o direito de se fazerem ouvir. Os que hoje são a esperança de um melhor amanhã transmitiram aos adultos a ‘Declaração de Oeiras’, um documento com mais de 60 pontos extraídos a partir de um levantamento exaustivo de problemas detectados pelos menores em cada freguesia e respectivas propostas de solução. A apresentação aos deputados e vereadores foi o corolário de um processo iniciado no final de 2009, na sequência de um desafio lançado pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Oeiras para reforçar a percepção pública dos direitos daqueles que apoia diariamente. Um “exercício de cidadania muito válido e enriquecedor”, foi a opinião unânime dos profissionais da política. Para os jovens, o importante foi a participação e o exemplo deixado à juventude em geral. “Desta iniciativa fica a tentativa de sensibilização junto de quem tem a função de decidir. Mas também foi muito positivo para os jovens perceberem que, em vez de se fecharem no seu mundo, podem e devem ter um papel mais activo em relação ao que vêem à sua volta, apontando defeitos, mas também maneiras de os corrigir”, resumiu ao JR Fábio Graça, de 18 anos, estudante da Escola Aquilino Ribeiro, de Porto Salvo. “Com esta crise pode ser difícil arranjar meios para resolver tantos problemas, mas a verdade é que há medidas que não são assim tão dispendiosas e continuam por aplicar”, acrescentou. Foram cinco as áreas ‘investigadas’ pelas crianças e jovens, entre os 3 e os 16 anos, desde o jardim-de-infância até ao Secundário: Ambiente; Saúde; Educação, Cultura e Lazer; Condições de Vida; Segurança. Divididos por grupos, enumeraram aspectos positivos e, sobretudo, os negativos, desde os mais abrangentes (como a falta de centros de saúde) aos mais pontuais (falta de passadeiras), muitas vezes com fotografias e localização exacta. Dialogaram entre si, com os professores e os presidentes de juntas de freguesia. A estes últimos pediram e receberam pareceres sobre os problemas assinalados. Talvez sem clara consciência disso, fizeram política. “É uma excelente forma de comemorar Abril!”, considerou Domingos Santos, presidente da Assembleia Municipal, que explicou o funcionamento daquele órgão autárquico e fez votos de que “as crianças saiam daqui com vontade reforçada de intervir para deixarem aos seus filhos um mundo melhor”. Quanto aos “senhores deputados, presidente da Câmara e vereadores, saem daqui rejuvenescidos e enriquecidos”. Mais concordantes do que o habitual, os deputados convergiram na ressalva de que boa parte dos problemas apontados não é competência do Poder Local, mas sim do Governo. E, também, nos elogios à iniciativa. Ainda assim, cada grupo político tratou de puxar a brasa à sua sardinha… Miguel Pinto, do BE, exortou os jovens a serem os primeiros defensores dos seus direitos, até porque “Portugal tem muitas leis e boas, o problema é que não se aplicam ou aplicam-se mal”. E considerou justos os reparos apontados a vários aspectos do quotidiano no concelho, como a recolha de lixo ou o estado de alguns jardins. Diferente foi o enquadramento feito pela maior bancada na AMO:“Ainda bem que jovens deste concelho são exigentes. E, apesar de viverem num concelho com um desenvolvimento muito acima da média, identificam problemas em várias áreas. Têm razão: é sempre preciso fazer mais e melhor e é isso que as estruturas directivas do concelho têm feito”, opinou Luís Santos, do IOMAF. Joaquim Cotas, da CDU, o deputado com mais idade na AMO, enalteceu a iniciativa e lamentou a “aberração” de se formar jovens para depois os obrigar a emigrar. “Mas desengane-se quem pensa que não há volta a dar porque Portugal já esteve em situações tão ou mais difíceis e esta também vai ser ultrapassada através da luta”, disse. Já o presidente da Câmara, embora elogiando o exercício de cidadania, acabaria por destoar do tom geral. “Faltam os afectos a esta declaração!”, criticou Isaltino Morais. “Onde está a identidade do território?”, perguntou, lamentando a “falta de maior enquadramento” a nível da história do Município, políticas desenvolvidas ou até dados estatísticos… “Tal como está é algo asséptico”, concluiu o edil, discordando, por outro lado, do tom genérico da Declaração. “Por exemplo, a poluição das ribeiras foi um problema há dez anos, mas hoje já não é! Falta iluminação pública? Dizem que a solução é mais candeeiros, mas se numa
rua qualquer falta uma lâmpada, noutro lado pode até ter a mais”... Ainda assim, Isaltino Morais
mostrou-se aberto a que o documento venha a contribuir para delinear políticas sectoriais. “Podemos até criar mecanismos informais de consulta e participação para que os jovens possam dar continuidade a este trabalho”, incentivou o autarca.
Jorge A. Ferreira

PARQUE DA PAZ(ALMADA) Utilizadores substituem seguranças


Clube chama gente ao parque, mas há quem tema falta de vigilância


 Durante anos foi conhecido como Quinta do Chegadinho, um local aberto que alguns amantes do atletismo aproveitavam para treinar. Hoje é um espaço natural qualificado pela autarquia como Parque da Paz que atrai tanto atletas direccionados para a competição, como amadores da prática de exercício físico ou famílias que simplesmente aproveitam este espaço de 40 hectares para passear ou ficarem junto ao lago a observar as aves e divertir as crianças. E espaço natural concebido também como bacia de retenção das chuvas para evitar cheias na zona da Cova da Piedade, é diariamente local de encontro de centenas de pessoas e, muito mais ainda aos fins-de-semana. Por isso, foi com alguma estranheza que os seus utilizadores viram a autarquia retirar os seguranças que ali faziam serviço. O assunto chegou a ser colocado num encontro das Opções Participativas do Feijó e foi justificado pela presidente da Câmara de Almada pela “necessidade de contenção de verbas”. No entanto Maria Emília de Sousa considera que os próprios utilizadores do parque “são os seus melhores vigilantes”, e nisto muito contribuem os elementos do Clube de Atletismo Amigos do Parque da Paz. Um clube que, tal como o espaço que utiliza, cresceu rapidamente. Começou com apenas sete pessoas, em pouco tempo passou a reunir meia centena de praticantes e actualmente tem quase 200 sócios e um‘site’ com 70 mil visitantes. “Como clube existimos há cerca de um ano”, diz o seu presidente, Luís Roque. “As pessoas contactam-nos para colocar as mais diversas questões sobre o Parque da Paz”. Uns pretendem ser informados sobre a prática desportiva e se o clube organiza competições, enquanto outros colocam questões como fazer festas de aniversário neste espaço natural. “Há pessoas que nos consideram os vigilantes do Parque da Paz. Mas não o somos, nem queremos ter essa responsabilidade”, afirma Luís Roque que também lamenta a saída dos seguranças deste espaço. É que ao clube chegam queixas relacionadas com o desaparecimento de algumas aves, actos de vandalismo, problemas com as pessoas que deixam os cães à solta, e outras que “tiveram de fugir para não serem assaltadas”. Para além disto “o parque está mal iluminado”. Enquanto algumas pessoas utilizam mais o cerca de um quilómetro em volta do lago, outras optam pelos três quilómetros do circuito, e é quando passam nas zonas mais isoladas que os problemas se colocam. “No Inverno, quando há menos luz, as pessoas usam o parque só até ao início da tarde". No entanto Luís Roque entende que o Parque da Paz, por ser um espaço natural, “pode não ser adequado para receber algumas estruturas, como abrigos”, outro dos elementos que é apontado como estando em falta. Já quanto à iluminação, considera que a autarquia “deve encontrar uma solução”, é que o parque apenas é procurado se as pessoas o considerarem seguro. Por seu lado, o Clube de Atletismo Amigos do Parque da Paz, criado em Maio do ano passado, pretende dar maior dinamismo às suas actividades. Para além de participar no “Almada Mexe Comigo”, entre outras acções, pretende vir a criar uma prova oficial, o que não será fácil uma vez que o perímetro do Parque da Paz é pequeno para isso, mas “podemos pensar na possibilidade da prova partir do Parque da Paz, fazer um percurso pela cidade e terminar neste espaço”, avança Luís Roque. Outra das intenções do clube, para além de vir a ter uma sede, é que a autarquia permita que os seus sócios efectivos utilizem a pista de Atletismo da Sobreda sem terem de pagar os três euros por utilização livre.
Humberto Lameiras

ALMADA Preço da água até pode baixar


SMAS contrariam tendência e admitem aliviar factura. O pior são as taxas de saneamento

O preço da água em Almada “não vai aumentar”. A garantia é dada pelo presidente dos Serviços  Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) de Almada em declarações ao Jornal da Região. Aliás, pelas contas de José Gonçalves o preço da água no concelho “poderá baixar” nos próximos anos, embora a factura venha a apresentar um valor superior “devido à taxa de saneamento”. É  que as Estações de Tratamento de Água Residuais “têm um custo de manutenção elevado”, o que se reflecte na factura final. Com isto, o presidente dos SMAS pretende desmistificar a afirmação da ministra do Ambiente que considera “inevitável” a subida do preço da água para que o sector seja sustentável. Assunção Cristas identificou, recentemente, uma dívida das autarquias à Águas de Portugal no valor de 3 milhões de euros, pelo que justifica a necessidade de subir o preço da factura para evitar um escalonar “crónico” negativo do sector. A solução é, por isso, privatizar. Para José Gonçalves o discurso da ministra esconde outros interesses. “O Governo pretende que o sector das águas seja ainda mais atraente para o privado”. Portugal “paga menos pela água que os outros países  da Europa”, diz o responsável pelos SMAS, e faz contas: “Considera-se que os portugueses pagam cerca de um por cento do seu rendimento pela água que consomem, quando na Europa esta taxa está em 3 por cento”. Portanto, “o que o Governo está a dizer aos privados é que o sector da água é  rentável, mas por de ser ainda três vezes mais rentável”. Quanto a dívida de muitos municípios à Águas de Portugal, para José Gonçalves isto prova que “é um erro desmunicipalizar o sector”. Na sua opinião o negócio com a Águas de Portugal veio “sufocar” financeiramente os municípios. “Para evitar que as populações paguem a água a preços elevadíssimos os municípios tiveram que financiar esse custo e caíram num processo de dívida”. No caso de Almada, que não alinhou neste sistema, o sector “dá lucro, é mais barato para a população e permite que os SMAS invistam anualmente na renovação da rede”. Diz José Gonçalves que o investimento, global, previsto para este ano está no nível dos “14 milhões de euros”, estando neste momento a decorrer obras de renovação da rede no Feijó e na Rua da Liberdade, entre a Cova da Piedade e Almada. Um investimento que o autarca tem muitas dúvidas que viesse a acontecer caso o sector fosse privatizado. “A água é um bem essencial e não pode ser pensado na lógica de um negócio. A receita que os SMAS obtêm é reinvestida para melhorar o serviço de água e saneamento. Um privado não tem esta lógica de funcionamento”. Por isso, insiste que Almada “está contra a privatização de um sector que tem de ser público”. É que as pessoas “não podem passar sem água”, por isso colocar este sector na lógica do negócio “é uma violência”, avalia. 
Humberto Lameiras

CARNAXIDE Centro de Saúde desadequado mas ‘esforçado’


Louçã visita unidade de Carnaxide

Velho e desadequado em construção de mobilidade, mas com uma equipa de médicos, enfermeiros e administrativos que tem permitido “ultrapassar todas as metas e indicadores”. Assim é o Centro de Saúde de Carnaxide, nas palavras com que Vítor Cardoso, director-executivo do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Oeiras, recebeu o líder do Bloco de Esquerda, no passado dia 17. Acompanhado por João Semedo, deputado à Assembleia da República, e por Miguel Pinto, deputado municipal em Oeiras, Francisco Louçã mostrou-se solidário com o antigo anseio de um novo centro de saúde, que até tem terreno e projectos disponibilizados pela autarquia, faltando apenas a luz verde do Ministério das Finanças. “Os profissionais não aguentam o sufoco de trabalharem nestas condições”, salientou Vítor Cardoso, adiantando que “a obra foi retirada no ano passado, mas este ano está outra vez em cima da mesa”. “Já cá vieram os técnicos e comprovaram que é muito importante haver um novo centro de saúde em Carnaxide”, acrescentou, concluindo: “Com este investimento, mais o que se prevê para Barcarena, ficam resolvidos os problemas de saúde no concelho”. Mesmo assim, na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Carnaxide (UCSP), que atende quase 20 mil utentes, os progressos têm sido muito significativos, salientou aquele responsável, mencionando a passagem do número de utentes sem médico de família de 15 mil para sete mil ou o fim das filas de madrugada. Entretanto, já se prepara ali a formação de uma nova Unidade de Saúde Familiar que funcionará no futuro edifício a par da UCSP. Está, ainda, na forja o lançamento de programas para segmentos específicos da população, além de uma parceria com as juntas de freguesia do concelho. Um dinamismo, apesar dos cortes no investimento público, que Francisco Louçã anotou para concluir: “Em todo o lado o que nós temos é um Serviço Nacional de Saúde esforçado de médicos, enfermeiras, trabalhadores, gente que se dedica à saúde neste país”. O líder do BE acusou o Governo de “desperdiçar” recursos em parcerias público-privadas na saúde e de dar o “sinal contrário” nesta área: “Se há uma boa maternidade vamos fechá-la; se há um SNS competente, vamos torná-lo mais caro e favorecer a desigualdade de uns poderem ter medicina privada e outros terem que ter uma medicina empobrecida”.
Jorge A. Ferreira

Das urgências de Bogotá para a Tapada





Duas médicas colombianas prestam serviço na Unidade de Saúde da Tapada das Mercês

A médica colombiana Rosa Castaneda trocou as urgências do hospital de Bogotá pelo Centro de Saúde de Algueirão-Mem Martins, em Abril de 2011. Um ano depois, a língua não é uma barreira e só o sotaque marca a Agrupamento de Centros de Saúde de Algueirão-Mem Martins e Rio de Mouro, inaugurada em Fevereiro, com capacidade para 12 mil utentes, foram colocadas duas médicas contratadas à Colômbia. Nesta urbanização da maior freguesia do país, onde moram cerca de 20 mil pessoas, a população já está habituada a conviver com as barreiras linguísticas das 20 nacionalidades diferentes que ali coabitam e não estranham o sotaque, que alguns até consideram "engraçado", das duas médicas. Para Rosa Castaneda, as diferenças entre os dois países são poucas, mesmo que a troca tenha englobado deixar um serviço de urgências da capital
colombiana, Bogotá, onde moram oito milhões de pessoas, por uma lista de 1500 utentes. "Este é um trabalho de medicina familiar, onde temos muitos pacientes. Tem sido um trabalho muito bom e temos todos os recursos para trabalhar. A única diferença é a cultura, mas um paciente é um paciente", disse amédica à Lusa. Quanto à barreira linguística, Rosa Castaneda adiantou que, se no início até foi um"bocadinho complicado", agora já compreende os utentes e já se faz entender na perfeição, mesmo que, para isso, tenha de explicar mais vezes as situações. A médica faz um balanço positivo da experiência de um ano no nosso país e conta com o apoio de muitos utentes, que confidenciaram à Lusa preferir os cuidados desta colombiana de 31 anos, que escolheu Portugal por se tratar de um novo desafio profissional. Fernando Aleixo era, até há poucos meses,
um dos 46 mil utentes do ACES de Algueirão-Mem Martins/Rio de Mouro sem médico de família. Foi-lhe atribuída a médica Rosa Castaneda e agora diz que "foi uma sorte". "Não desfazendo os outros médicos que tive, esta é doce, é carinhosa e é preocupada", diz Fernando Aleixo, que enfrenta há vários meses um problema oncológico. "Tive sorte em todos os aspectos. Pela sua simpatia, profissionalismo e coração enorme", prosseguiu. Vanessa Pereira é utente de uma médica portuguesa, mas já foi "atendida por uma das colombianas" e disse à Lusa que gostaria de trocar de médica de família. "As (duas) doutoras que estão cá têm outros cuidados que, se calhar, os médicos portugueses não têm connosco. Analisam tudo ao pormenor e são mais simpáticas. Aconteceu-me já, por diversas vezes, entrar no consultório e o médico (português) passar a receita e nem sequer olhar para mim", disse. De acordo com a presidente do conselho clínico do ACES, Teresa Costa, a experiência que contemplou a vinda de médicos colombianos para Portugal tem sido "muito positiva". "Esta situação veio melhorar muito a acessibilidade dos nossos utentes. O nosso agrupamento tem 123 mil inscritos, cerca de 46 mil sem médico de família, e isto veio minimizar um pouco esta situação", disse a responsável à agência Lusa. Quanto às barreiras linguísticas, Teresa Costa afirma que já não existem e que os médicos se adaptaram muito bem ao serviço em Portugal, onde acabam por ter mais recursos do que na Colômbia.

Restauro de Monserrate avança sala a sala



Após abertura da Cozinha, a Sala de Jantar é o próximo espaço a integrar o circuito normal de visita do Palácio

A partir do final de Maio, os visitantes do Palácio de Monserrate vão poder apreciar a Sala de Jantar devidamente restaurada, após a conclusão de uma intervenção, que ascende a 27 mil euros, que promete devolver o esplendor aos revestimentos arquitectónicos da dependência. Após a Biblioteca, a Sala de Jantar será o segundo espaço integralmente restaurado ao nível das diferentes superfícies e elementos decorativos, como estuques, lareira, pavimentos, azulejaria, caixilharias de portas e janelas e, no caso da copa anexa, o mobiliário integrado. Desde a passada semana, os visitantes também já podem visualizar a Cozinha do monumento, cuja principal atracção reside num fogão que se encontrava em avançado estado de degradação, acompanhado por um conjunto de utensílios adquiridos em Inglaterra. À semelhança do que aconteceu com as intervenções já realizadas, o restauro da Sala de Jantar, em curso desde o final de 2011, decorre à vista dos visitantes, seguindo a estratégia de “aberto para obras” definida pelos responsáveis da Parques de Sintra-Monte da Lua (PSML). Numa extensa área de 240 metros quadrados, técnicos da empresa Samthiago oriunda de Viana do Castelo e com um vasto currículo na reabilitação de núcleos patrimoniais, incluindo a Cidadela de Cascais, procedem
ao restauro dos estuques, o principal elemento decorativo da sala. “Liso ou moldado, em relevo ou em peças destacadas, (o estuque) reveste a totalidade das paredes segundo uma composição de elaborado desenho”, pode ler-se num painel que elucida os visitantes em relação aos trabalhos em andamento. As camadas de tintas aplicadas ao longo de muitas décadas, mais de um século, atenuaram o relevo original e obrigam à sua remoção. “São tintas com mais de 100 anos, que têm tendência a endurecer, e a sua remoção foi muito difícil, tendo para isso de usar-se métodos por via química e mecânica, como a utilização do bisturi”, explica Carla Pereira, responsável da Samthiago. Para trás ficou “uma sala completamente escura”, que implicou mesmo a aplicação de biocida, para a eliminação de fungos, e que está a escassas semanas de ficar integrada no circuito normal de visita, embora sem mobiliário. A Copa anexa também está a ser alvo de restauro e, neste caso, o mobiliário integrado, bancada de lava-loiça, estante de canto, móvel do monta pratos e armário alto, vão recuperar a sua funcionalidade. Já disponível aos olhos dos visitantes, no piso inferior até agora fechado ao público, está a Cozinha, que ostenta um fogão do tipo de chama invertida, em que “o ar ambiente penetrava nas câmaras de combustível e, após queima, era aspirado por um canal aberto no pavimento até ao tubo-chaminé na parede do edifício, junto ao monta-pratos”. Para o restauro do fogão, foi necessário estudar um equipamento semelhante que se encontra no Museu Nissim de Camondo, em Paris, tendo os elementos corroídos sido substituídos e superfícies tratadas e protegidas com material semelhante ao original. Longe vão os tempos em que um carvalho invadiu a cozinha e obrigou à reconstrução da parede exterior, complementada por outras intervenções como o reforço estrutural da zona do monta-pratos.“O que pretendemos agora é efectuar o restauro, a pouco e pouco, de um espaço de cada vez, de modo a alargar, cada vez mais, o circuito de visita”, salienta Luísa Cortesão, a arquitecta que coordena o projecto de recuperação do Palácio de Monserrate, iniciado em 2007, e que contou com financiamento do mecanismo europeu EEA-Grants. “Em 2007, abrimos para obras”, recorda a arquitecta, que salienta a intervenção realizada no domínio das infra-estruturas.Para o efeito, foi construída uma galeria técnica, com uma extensão superior a 40 metros, que alberga as redes infra-estruturais, ao nível de esgotos, abastecimento de água, electricidade e aquecimento. Antes, em 2001/2004, decorreu a reabilitação das coberturas, “uma obra essencial para parar os processos de degradação que estavam em curso”. “Só vamos intervencionar um espaço de cada vez”, revela Luísa Cortesão, sem se comprometer com um prazo para a conclusão das obras, até porque o financiamento se resume, desde meados de 2010, a verbas próprias da PSML.Mas, a arquitecta também enaltece o cariz didáctico da própria intervenção. “Mais do que ter um palácio todo restaurado, é importante ter um palácio que mostra como decorre o restauro”, salienta esta técnica, que alude às especificidades das obras. “Nós removemos tintas com bisturi, para não ferir o estuque que está por baixo”, realça, apontando para uma aluna da Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra que, no corredor, se dedica a essa “hercúlea tarefa”. Enquanto o piso dos quartos vai acolhendo exposições, a última das quais dedicada às dez cidades mexicanas classificadas como Património da Humanidade, a Sala da Música tem recebido um conjunto de eventos, embora ainda careça de intervenção de reabilitação, tal como sucede com a Sala de Bilhar, “a que melhor se manteve ao longo do tempo” e ostenta alguns painéis relativos ao projecto de recuperação do monumento. Em pior estado está a Sala Indiana, “que tem metade do tecto perdido e que, quando chegámos cá em 2007, ainda estava escorada com uma estrutura de andaimes”. “Esta sala será a última a ser recuperada e deverá servir como testemunho, para que as pessoas compreendam o que pode acontecer a um edifício que não tem manutenção corrente e com problemas na cobertura”, revela Luísa Cortesão.
João Carlos Sebastião

quarta-feira, 18 de abril de 2012

CASCAIS Orçamento Participativo está de volta

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Câmara desafia munícipes a apresentarem propostas Cerca de meia centena de munícipes deram o pontapé de saída, no passado dia 10 de Abril, na Escola Secundária da Cidadela (Cascais), para a edição 2012 do Orçamento Participativo (OP), um mecanismo que permite aos cidadãos decidirem sobre o destino de uma parte do Orçamento Municipal (no valor de um milhão e meio de euros), para realização de projectos que não devem ultrapassar, em cada um dos casos, o montante de 300 mil euros. A primeira sessão do OP 2012 contou com 43 participantes e seleccionou cinco propostas: 1.º Espaço da Terra – Espaço Multiusos Areia-Guincho – 24 votos; 2.º Rotunda do Carrascal de Alvide – 17 votos; 3.º Requalificação do jardim da Rua de São Miguel – Areia – oito votos; 4.º Requalificação do Mato Romão – Aldeia de Juzo – oito votos; 5.º Oficina dos saberes de Rana – sete votos. A segunda sessão realizou-se na passada quinta-feira, na Escola Matilde Rosa Araújo, em São Domingos de Rana, e contou com a participação de 28 munícipes. Neste caso, foram seleccionadas outras cinco propostas: 1.º Projecto de eco-intervenção na Escola Fernando Lopes Graça – 22 votos; 2.º Passeios da Abóboda à rotunda do cemitério de São Domingos de Rana – 15 votos; 3.º Passagem superior pedonal (junto à paragem dos autocarros da Escola Frei Gonçalo Azevedo) – 11 votos; 4.º Dinamização do espaço e envolvimento do borboletário – seis votos; 5.º Requalificação do Largo da Igreja Conceição da Abóboda – dois votos. Na primeira sessão do OP, o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, mostrou-se optimista com este processo: “Mais do que expectativas, são grandes responsabilidades porque o Orçamento Participativo de 2011 correu muito bem e teve uma grande participação. Está neste momento em execução e iniciámos, este ano, o segundo OP que acredito vamos superar de uma forma mais vincada e exigente daquilo que foram os resultados alcançados, que foram extraordinários, em 2011”. O edil encara o OP como “uma forma de renovar o próprio conceito de democracia” e espera uma forte adesão dos munícipes. Em declarações ao JR, o vereador da Gestão Financeira e Patrimonial, Nuno Piteira Lopes, adiantou que, como o OP de 2011 foi reconhecido como um sucesso, “optámos por não fazer grandes mudanças porque, como diz o ditado, 'em equipa vencedora não se mexe'”. No entanto, além de uma maior divulgação das diferentes sessões, “decidimos apostar na diversidade dos locais para a realização das sessões de participação. Por outro lado, o processo inicia-se cerca de dois meses mais cedo, o que permitirá mais algum tempo para avaliação das propostas e início do processo de votação em Setembro. Outra diferença, correspondendo ao pedido de diversas pessoas durante o processo do ano passado, é a realização de duas sessões de participação ao fim-de-semana (sábado às 17h00), dando oportunidade aos cidadãos para quem as sessões durante a semana seriam mais difíceis”, revelou Nuno Piteira Lopes. Esta terça-feira, dia 17 de Abril, decorreu a terceira sessão do OP 2012 na Associação Apoio Social Nossa Senhora da Assunção (Malveira da Serra). As próximas sessões irão ter lugar em Carcavelos, dia 19 de Abril às 21h00, na Sociedade Recreativa Musical de Carcavelos; em Manique, 21 de Abril às 17h00, na Escola Salesiana de Manique; na Parede, 24 de Abril às 21h00, na Escola Secundária Fernando Lopes Graça; em Tires, 26 de Abril às 21h00, no Grupo Recreativo Dramático 1.º Maio; em S. João do Estoril, 3 de Maio às 21h00, na Escola Secundária de São João do Estoril; e, finalmente, na Amoreira, 5 de Maio às 17h00, na Escola Básica e Jardim-de-Infância Raul Lino (Monte Estoril). Francisco Lourenço

CASCAIS Dunas ganham núcleo de interpretação

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Parque Natural de Sintra-Cascais vai dispor de vários equipamentos de apoio aos visitantes As dunas da Cresmina, património natural que esteve sempre longe do olhar de quem passa no Guincho, vão passar a ser redescobertas com o futuro Núcleo Interpretativo Ambiental, que irá abrir em breve com exposições e aplicações multimédia, complementado por percursos (passadiços em madeira) sobre aquele areal. O novo equipamento, que irá ser inaugurado até ao Verão, será uma nova forma de redescobrir as dunas da Cresmina e insere-se num projecto da Câmara de Cascais, através da Cascais Natura, co-financiado pelo FEDER ao abrigo do Programa Operacional Regional de Lisboa que apoia a Gestão Activa de Espaços Protegidos e Classificados, em articulação com o PIT – Programa de Intervenção Turístico. Está integrado numa candidatura QREN e PIT-Turismo de Portugal, cujo valor total é de 3,6 milhões de euros. O JR acompanhou o vice- presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, numa visita à Cresmina e o autarca explicou o que vai ser o futuro Núcleo de Interpretação Ambiental: “Este espaço de visitação irá permitir a interpretação deste sistema dunar em particular, com painéis interpretativos, mapas, uma aplicação multimédia e um miradouro virtual para perscrutarmos o horizonte e interpretar a paisagem que rodeia o núcleo. Vai permitir ainda o desenvolvimento de percursos de interpretação guiados ou com guia digital para interpretação do sistema, bem como o aluguer de bicicletas e ‘segways’ para um passeio de exploração pelo Parque Natural de Sintra-Cascais”. O novo equipamento vai dispor, ainda, de “uma cafetaria para apoio aos visitantes, cujo concurso de concessão está neste momento a decorrer e que deverá abrir na mesma altura que o núcleo”. Ainda sem data de abertura, Miguel Pinto Luz adianta que tal acontecerá em breve, já que “estão a ser finalizados os conteúdos de exposição e pretende-se ter o espaço aberto até ao Verão”, ocasião em que estará também concluído o estacionamento na praia da Cresmina: “A requalificação do estacionamento da praia da Cresmina está prevista estar concluída até ao início da próxima época balnear”, garantiu o autarca. Para além das dunas da Cresmina, outros núcleos interpretativos vão nascer no litoral do Abano e da Biscaia. Miguel Pinto Luz explicou que “a construção do Núcleo do Abano está inserida no âmbito da recuperação do Forte do Abano, não sendo possível adiantar, para já, data para a sua execução. Este espaço pretende interpretar a componente geológica e da flora de grande valor e raridade no troço entre as praias do Abano e da Grota”. Sobre o Núcleo Interpretativo da Biscaia, “está, para já, suspenso.Não foi possível chegar a acordo com o proprietário da propriedade onde se pretendia instalar o mesmo. Trata-se de uma antiga pedreira que se previa transformar em observatório de aves, numa lagoa de descanso e alimentação para aves aquáticas e migratórias que passam pela nossa costa em direcção ao Norte de África”, revelou o vice-presidente. A Serra de Sintra também vai ter núcleos de interpretação ambiental na Peninha e na Quinta do Pisão. O autarca revela que “na Peninha, o centro está já a ser criado em parceria com o Parque Natural, através de uma intervenção integrada na estratégia de visitação do parque. Este espaço irá contemplar um centro de interpretação sobre o património existente, e toda a fauna e flora associadas aos ‘habitats’ existentes de influência atlântica. Terá também uma cafetaria de apoio, e uma casa-abrigo para permitir a pernoita de visitantes”. Na Quinta do Pisão, vai ser criado um Centro de Interpretação e Recepção a Visitantes, bem como outros núcleos museológicos associados aos vários valores existentes. “Esta intervenção está prevista para breve e tem por base a recuperação do edificado existente na quinta. Com 480 hectares, esta quinta tem uma grande capacidade para receber visitantes e amantes da Natureza, onde através dos percursos existentes ou organizados (caso dos roteiros culturais) é possível interpretar a paisagem rural e a sua importância para determinadas espécies e ‘habitats’ existentes na quinta”, realça Miguel Pinto Luz. Francisco Lourenço

MISERICÓRDIA DA AMADORA Unidade da Sagrada Família recebe primeiros utentes

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Até ao final do mês de Abril serão ocupadas todas as camas disponíveis A Unidade de Cuidados Continuados (UCC) da Sagrada Família, construída há quase dez meses pela Misericórdia da Amadora, junto ao bairro da Cova da Moura, na Buraca, já recebeu os primeiros utentes, encaminhados pela rede nacional. Até ao final de Abril as 30 camas estarão ocupadas. Maria Fernanda Abrantes, 62 anos, há três anos que está numa cadeira de rodas e apenas fala ou mexe os olhos devido a uma esclerose lateral amiotrófica. Doença que a torna totalmente dependente dos outros. Estava em casa a ser tratada pelo marido, também com inúmeras complicações de saúde devido aos seus 63 anos. Como reside em Algés (Oeiras), a abertura da unidade veio ajudar a família a cuidar de si, mantendo-se próxima. “Já não me sentia muito segura em casa, o meu marido já não me conseguia virar e isso estava a trazer-me outros problemas”, desabafa a utente sempre com um sorriso nos lábios, apesar da sua limitação. Foi a primeira a entrar na Unidade que é gerida pela Misericórdia da Amadora. E agora sente-se muito satisfeita porque “são todos muito simpáticos e o espaço é muito confortável”. No final de Março foi assinado, finalmente, o protocolo entre a Misericórdia da Amadora e a ARSLVT (Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo) que permitiu desbloquear a verba que havia sido prometida para a construção do equipamento, orçado em cerca de dois milhões de euros. A Câmara da Amadora comparticipou 15 por cento e a ARSLVT assumiu o financiamento de cerca de 35 por cento. A Misericórdia da Amadora começou os preparativos para receber os utentes no início do mês, com acções de formação do pessoal e preparação da unidade que dispõe de 30 camas de Longa Duração e Manutenção. Pedro Ferreira, director técnico da unidade, explica que “os utentes começaram a entrar dois de cada vez e contamos que até ao final do mês as 30 camas fiquem preenchidas”. O responsável acrescenta que “esta é uma unidade de longa duração e manutenção, mais vocacionada para receber casos em que o potencial de reabilitação é muito limitado”. Os utentes são referenciados à Rede Nacional de Cuidados Integrados, pelos centros de saúde, hospitais e pela rede social local, e são acolhidos de acordo com critérios de proximidade. Esta é a primeira unidade do concelho da Amadora a integrar esta rede e junta-se a poucas existentes na área metropolitana de Lisboa. A UCC de Longa Duração e Manutenção foi construída em apenas 10 meses e esteve prevista a sua abertura em Julho de 2011, mas a falta de financiamento por parte do Ministério adiou o processo. Milene Matos Silva

Falagueira dá terras para cultivo

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Freguesia já tem lista de espera para hortas sociais Numa altura em que proliferam hortas urbanas pelo concelho, a Junta de Freguesia da Falagueira lançou um projecto inovador. Passa pela cedência de 48 talhões com cerca de 30 metros quadrados aos habitantes interessados em cultivar os terrenos situados junto à Escola Secundária Mães d’Água, no Casal do Silva. A iniciativa arrancou em Setembro de 2011 e já está a dar os primeiros frutos. Daí, a festa das Almoinhas, realizada na passada semana. Tomates, alfaces, favas, tremoços, batatas,melancias e ervas aromáticas são alguns dos produtos que António Sabino retira do seu pequeno talhão. “Fui dos primeiros a quem foi atribuída uma pequena parcela de terreno e, neste momento, já consigo levar para casa muitos produtos”, adianta este residente da Falagueira. Há mais de 30 anos que saiu da pequena aldeia de Santo Aleixo da Restauração, situada no concelho de Moura, onde era agricultor, para vir trabalhar para a fábrica Cabos d’Ávila. “Sempre gostei de trabalhar a terra e nunca o deixei de fazer. Quando soube que a Junta de Freguesia estava a ceder estes terrenos resolvi inscrever-me de imediato”, revela. Para além do gosto que tem pela agricultura, esta é também uma forma de equilibrar as contas da casa que partilha com a mulher, dois filhos e dois netos, pois a magra reforma que recebe “não chega para as encomendas”. Este projecto que nasceu em Setembro do ano passado, para além da vertente pedagógica, estabelecendo um contacto com os alunos da escola, visa também apoiar a Loja de Emergência Social da Falagueira com o reforço de alguns produtos que sobram aos hortelãos. A ideia partiu do próprio presidente da Junta, Manuel Afilhado, que não esconde a paixão pelo cultivo e defende o regresso da população ao tratamento das terras para daí colher uma parte do seu sustento. “Este projecto surge para dar resposta à população carenciada, que tem vindo a aumentar na freguesia nos últimos anos. Decidimos, por isso, disponibilizar os terrenos à população, na maioria reformada ou desempregada, para que sejam cultivados. Ao mesmo tempo, angariamos alguns produtos para a Loja Social, que tem vindo a apoiar cerca de cem famílias”, explica Manuel Afilhado. Para já, são apenas 48 os hortelãos, mas a ideia é atribuir mais talhões. Até porque, “há mais de cem pedidos em lista de espera”, adianta. Os utilizadores das hortas receberam uma formação específica sobre agricultura biológica. A horta comunitária foi simbolicamente inaugurada, no dia 14 de Abril, com a presença de dezenas de pessoas, entre moradores e autarcas numa “festa das Almoinhas”, como intitulou o presidente da Junta. Presente esteve também o presidente da Câmara da Amadora, Joaquim Raposo, numa cerimónia em que foram premiados os talhões mais bonitos. No final teve lugar um almoço com uma sopa feita com produtos da horta. Milene Matos Silva

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Volvo Ocean Race une Oeiras e Lisboa

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O empresário João Lagos, promotor da escala de Lisboa da Volvo Ocean Race (VOR) em vela 2011/12, revelou, no passado dia 4, que já foi apresentada a candidatura da capital portuguesa para o acolhimento de escalas nas edições de 2014 e 2017 e reafirmou a vontade de manter a VOR por estas paragens “durante 20 anos”. Falando durante a cerimónia de apresentação da prova, que estará entre nós de 31 de Maio a 10 de Junho, o empresário sugeriu que deveria avançar-se para a formação de uma campanha lusa para a edição de 2014, com o apoio de empresas do Brasil e Angola. “Um projecto desta ordem só pode ser feito em partilha e em colaboração, eventualmente com outros países e com empresas globais à escala mundial”, justificou. No evento estiveram presentes os secretários de Estado do Mar, Manuel Pinto de Abreu, e Desporto e Juventude, Alexandre Mestre, além do edil de Lisboa, António Costa, e do vice-presidente e vereador do Desporto na Câmara de Oeiras, Paulo Vistas. Os autarcas deixaram claro que João Lagos pode contar com o seu apoio. Da parte de Oeiras, Paulo Vistas destacou o “potencial do turismo náutico”, lembrando, em declarações à agência Lusa, o projecto de implantação de uma marina para iates de grande porte junto ao terrapleno de Algés. “Estamos a desenvolver um estudo com a APL [Administração do Porto de Lisboa] de ocupação da área entre a Torre dos Pilotos e os Fermentos Holandeses e Alto da Boa Viagem”, referiu o autarca. O ‘vice’ do executivo oeirense lembrou que a VOR “pode trazer um enorme valor acrescentado se não se ficar apenas por uma etapa”. O objectivo é “dar o exemplo para que este ‘cluster’ de desenvolvimento económico possa ser uma realidade para o nosso país”. Sublinhando o “bom relacionamento” entre Oeiras e Lisboa, Paulo Vistas reiterou a ideia de que “o que é bom para Lisboa é bom para Oeiras e vice-versa e o que é bom para ambos é bom para o país”. Por seu turno, António Costa formulou votos para que a VOR sirva para incluir Lisboa no “circuito das grandes navegações” e na “rota dos grandes iates”. O autarca de Lisboa também destacou a “enorme mais-valia” do projecto na recuperação da “zona decadente” da Doca de Pedrouços numa “zona de oportunidades” e uma “plataforma articulada” no conjunto da frente ribeirinha. Durante a apresentação do evento foi, ainda, confirmado o apoio da Presidência da República à iniciativa e o seu enquadramento nas comemorações do 10 de Junho (Dia de Portugal), precisamente o dia da largada dos seis veleiros para Lorient. O programa desportivo e cultural da estadia inclui uma regata costeira Cascais-Algés- Cascais, com várias classes de vela ligeira (dias 2 e 3 de Junho), provas de vela adaptada (a 4 e 5). Entre 31 de Maio e 5 de Junho realizar-se-ão sessões diárias de baptismo de vela. Recorde-se que está previsto que Oeiras, para além de outras animações específicas, traga para o recinto da “Race Village” uma roda gigante, dando a possibilidade aos visitantes de visualizar todo o espaço do evento a partir de um ponto elevado.

PEDROUÇOS ‘Não saímos sem garantias de um novo porto de pesca!’

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Sindicato dos Pescadores alerta para a situação que afecta armadores e tripulantes de 60 embarcações da Docapesca Tal como os velejadores que vêm ocupar o lugar que há muito era seu na Docapesca de Pedrouços, também os pescadores profissionais das áreas fluviais e marítimas mais próximas de Lisboa enfrentam duras provas, diariamente, quando deixam terra firme. Para além dos perigos quando sopram maus ventos e dos preços irrisórios pagos pelo peixe que trazem nos barcos, sentem na pele a falta do que mais abunda nos barcos à vela que vêm a Lisboa competir na Volvo Ocean Race: apoios à sua actividade. A começar por um porto de pesca digno desse nome. Por causa dessa ‘injustiça’ os homens do mar estão dispostos a estragar a festa náutica internacional que atraca na capital portuguesa a 31 de Maio. No próximo dia 18, os pescadores reúnem-se com a Secretaria de Estado das Pescas, num último esforço para conciliar posições. Não muito longe de Pedrouços, a Praia Velha de Paço de Arcos surge cada vez mais como uma possível solução, ainda que subsistam, aparentemente, divergências entre a Câmara de Oeiras e a Administração do Porto de Lisboa (ver caixa). Para os pescadores a hora é de exigir uma solução duradoura e de futuro. “Já chega de sermos tratados como um estorvo, é inaceitável que Lisboa não tenha um porto de pesca”, resume Joaquim Piló, na sede do Sindicato Livre dos Pescadores (SLP) que está por dias até ir abaixo, obrigando à transferência para Santos. Se a mudança se confirmar, ficará perto da estação de comboios e da doca para onde a Administração do Porto de Lisboa (APL) quer que vão agora armadores e tripulantes de 60 embarcações que até há poucos meses acostavam na Docapesca. “Só iremos para lá com garantias de que a mudança é provisória, de que vão construir um porto de pesca com as condições necessárias, e com a certeza de que alguém se responsabiliza pelas embarcações e os materiais; caso contrário, estamos dispostos a enfrentar a polícia de choque se for preciso”, garantiu o presidente daquela estrutura sindical, com a indignação bem espelhada na voz. A hipótese de irem para a doca de Santos não agrada aos pescadores. Sentem-se como um polvo a entrar no covo que o há-de prender por mais que esbraceje depois. “Onde é que vai caber todo este material em Santos?”, pergunta Piló, apontando os montes de artes do mar acumulados no cais da Docapesca, ao longo de largas dezenas de metros. “Em Julho, tudo o que está no mar vai ter de ser trazido para terra, para lavarem e arranjarem tudo porque é o defeso do polvo, por três meses. Onde é que vão pôr tudo isso?”. Como se não bastasse, “os restaurantes não nos querem lá, mas há uma coisa que eles vão ter de perceber: homens domar é fogareiro e carvão para assarem peixe, panelas e tachos para as caldeiradas. Porque a vida do mar é assim e não podem cortar a cultura das pessoas de um momento para o outro”. Ademais “os turistas até apreciam…”. Na Docapesca, contrapõe, “chegavam a estar cerca de 100 embarcações e cabiam todas. Antes de 2003, descarregavam 40 a 50 embarcações por dia”. Agora, resta ir para a Trafaria, onde foram realizados “alguns melhoramentos por pressão do nosso sindicato”, mas as obras mais avultadas acabaram por não se realizar, devido a razões várias, incluindo ambientais, o que torna aquela lota – a única no estuário do Tejo, após o fecho da doca de Pedrouços, onde os pescadores artesanais podem ir descarregar o peixe – insuficiente para o fluxo de pescado. “Não se quis gastar 18 milhões no porto de pesca na Trafaria e agora vão gastar aqui rios de dinheiro numa regata de 10 dias para depois darem tudo a alguém. É como o BPN!”, protesta o líder do SLP. Bem melhor seria a opção Paço de Arcos. “Nós defendemos essa alternativa. Vamos pedir uma reunião com o presidente da Câmara de Oeiras para saber a sua posição”, anuncia o dirigente sindical, embora com algumas reservas, já que “em princípio, o que a Câmara pretendia era quase tudo para recreio e uma miniatura para a pesca, só para as poucas embarcações que lá estão”. Sem querer interferir nas negociações que decorrem entre APL e a autarquia oeirense, sempre vai adiantando que, na sua opinião, “para gastarem dinheiro mais vale gastar numa coisa como deve ser…”. Já vai sendo tempo, diz, depois “do crime lesa-pátria que foi o fecho da Docapesca”. Jorge A. Ferreira